terça-feira, 5 de maio de 2015

O QUARTO COR-DE-ROSA


A casa tinha olhos
que nos olhavam
de debaixo da casa.

Por eles se via
para dentro de nós,
uns olhos silenciosos

por onde se via o mundo:
o quarto cor-de-rosa, o guarda-fatos,
o misteriosos mundo das escadas.

Quando mudámos
de casa
os olhos procuraram-nos em vão,

mas tínhamos cegado;
trouxéramos a visão.
os móveis, as coisas vi-

síveis e as invisíveis,
mas o que víamos
tinha lá ficado.

Manuel António Pina em Poesia Reunida

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