domingo, 3 de setembro de 2017

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Este livro do Castrim nasce da colaboração que manteve com os Missionários Comboianos, para a revista Audácia. A morte não permitiu que assistisse à publicação deste bonito livro «dedicado a todos os seus amigos comboianos.»

Os desenhos de Rogério Ribeiro tornam o livro ainda mais cativante.

Mário Castrim era católico.

Disse um dia:

Que é ser católico? Ir todos os domingos à missa? Confessar-se? Gostar de João Paulo? Não, isso não serei. Se é ser católico dar, como Cristo, prioridade aos pobres, aos oprimidos, aos injustiçados; se é estar como Cristo a combater a riqueza indevida, a hipocrisia e o poder do dinheiro; se é amar a Terra para melhor merecer o céu, então católico fui, sou e serei.
Olhe, o comunista é aquele que deixou de acreditar na eternidade para acreditar no futuro. O comunista é um cristão para uso quotidiano.

O Padre Manuel Augusto, Director da Revista Além-Mar e sacerdote comboniano afirma que este livro «é o grito de uma pessoa que procura, se confronta com Deus, reconhece e invoca a sua presença”. Por isso indica, ser um livro destinado a todas as pessoas que fazem uma procura de Deus, a partir dos conflitos normais e dos dramas da própria vida. Na redacção da publicação comboniana é recordado como uma pessoa com um “grande entusiasmo pela vida em geral. Tudo o que acontecia na vida merecia a apreciação lúcida e admirada do Mário, e ele colocava-o por escrito nas suas crónicas, sem preconceitos nem moralismos. Para ele havia uma regra essencial: a vida é harmonia, lealdade e respeito pelos inimigos”. “A amizade para com os Missionários Combonianos surgiu naturalmente, porque também ele alimentava o sonho de um mundo melhor, mais justo e fraterno. Ele era um homem profundamente preocupado e comprometido com os pobres e deserdados do mundo. Ouvia com enorme prazer todas as histórias dos missionários, e vivia a sorte e as incertezas daqueles que se encontravam nos teatros de guerra e das gentes que serviam».

Mário Castrim morreu a 15 de Outubro de 2002.

Oito dias antes, escreveu o seu último poema:

Lágrimas, não. Lágrimas, não. A sério.
Enfim, não digo que. É natural.
Mas pronto. Adeus, prazer em conhecer-vos.
Filhos, sejamos práticos, sadios.
Nada de flores. Rigorosamente.
Nem as velas, está bem? Se as acenderem,
sou homem para me levantar e vir
soprá-las, e cantar os "Parabéns".
Não falem baixo: é tarde para segredos.
Conversem, mas de modo que eu também
oiça, e melhor a grande noite passe.
Peço pouco na hora desprendida:
fique eu em vós apenas como se
tudo não fosse mais que um sonho bom.

Deste ponto do hotel vê-se qualquer coisa
que logo desde o início se entendeu
não poder ser outra coisa além do Cabo da Roca.
Daqui donde estou se vê que o Cabo é
perfeitamenhte ocidental o mais
ocidental possível.
Mais do que ele, só os nossos olhos.
Eles, para quem a terra não acaba nunca.
Eles, que tocam o ponto exacto onde
um sol de fogo prova que ela é redonda.
A única diferença é o farol. Mas se fores tu
de noite a olhar o mar, os barcos
podem ir à confiança.

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