quarta-feira, 4 de agosto de 2021

A ARTE É UM EXCESSO DE NÓS

29 de Outubro de 1974

Ouço um concerto de Mozart. E abre-se-me o lado melhor da vida,, o do encantamento, da fina e profunda comoção. Sou antimassa, sou antimanada. Devo ser uma tara. O êxtase, a alegria sem riso, a transfiguração. É a minha terra natal. E a minha política de quando estou só. E o meu modo de ser feliz como humano. De ser feliz – não bem de ter «prazer». Uma música, uma pintura, um poema. Quando são horas de ser prático, sou político e o resto. Como é detestável falar de arte para o grande público. Detestável mesmo vivê-la em grandes grupos. A arte é um acto solitário, uma questão a resolver entre nós e nós. Como todos os excessos de ser. A arte é um excesso de nós.

Vergílio Ferreira em Conta-Corrente Volume I

1 comentário:

Seve disse...

Não me canso de dizer: "Conta-Corrente" é uma das grandes obras da literatura portuguesa!