segunda-feira, 16 de agosto de 2021

MESA DE TRABALHO


À minha frente, uma tesoura para cortar
o verso; ao lado, uma lupa para aumentar
o tamanho da hipérbole; mais atrás, o agrafador
que serve para juntar uma estrofe à outra,
quando não se justifica a divisão do poema ;
no frasco, algumas canetas que me lembram
os teus dedos; mais acima, um furador
de papel, para o caso de ser preciso
abrir uma festa para te olhar. Não se falta
maia alguma coisa... ah, sim, a tua imagem,
porque sem ela a página ficará vazia, e
terei de deitar para o lixo todas estas coisas
que, sem ti, não me servem para nada.


Nuno Júdice

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