quarta-feira, 1 de maio de 2024

OUTROS MAIOS


Se agora lhe perguntassem o que fez depois da madrugada por que esperava, diria que daí até ao 1º de Maio, necessariamente, terá dormido mas, do que lembra bem, é que andou num turbilhão vertiginoso ao ponto de dizer que esse dia 25 não foi um dia, foram mais: que vai desde 25 de Abril até ao primeiro 1º de Maio.

Dirá então que acontecesse o que acontecesse – e muita coisa iria acontecer - obviamente aquela festa de ilusões, aquele património, já ninguém lhe tirava. Mais tarde dirá aos filhos que só quem viveu aqueles tempos de oásis, de miragens, perceberá o que foi o 25 de Abril. E não mais esquecerá aqueles dias luminosos em que tudo parecia ser possível.
Os jornais tentam dar notícia de tudo o que está acontecer, também do que virá.


Já foi extinta a PIDE/DGS, a Legião e as Mocidades Portuguesas, o povo persegue os pides nas ruas e, entregando-os às forças militares, agora encarcerados em Caxias, nem todos, conhecem a casa mas agora olham-na com uma perspectiva bem diferente, sabe-se que os funcionários públicos despedidos por motivos políticos serão reintegrados, começam a regressar os exilados políticos, os desertores querem voltar e pedem amnistia,

 Tomás e Caetano e outros ministros, já tiveram guia de marcha para o exílio em terras brasileiras, os trabalhadores tomam conta dos seus sindicatos.


Neste dia, há uma notícia que ofuscará tudo o resto, que encherá de alegria os portugueses: a comemoração pública do 1º de Maio. Durante a ditadura, o 1º de Maio era um dia que trabalhadores e estudantes estavam impedidos de comemorar. Mas com coragem e determinação, aqui e ali, sempre encontraram forma de o

assinalar, se bem que sujeitos a brutal repressão: pedras e palavras de ordem contra bastões, espingardas, carros de combate com tinta azul.

Que ao longo deste texto são relembrados.

Faltava um ano para Grande Festa.

Sem comentários: