Já voltei a casa, as portas rangem,
o pó tomou conta de todos os móveis,
deixando-me de pé, a balançar as chaves,
e a interrogar-me sobre o que não fiz.
O tempo que resta não é para confissões
nem para ajustes de contas:
pois quem guarda o guardião, quem despe
a roupa
das vestais do templo?
A água corre ainda, um fio sequer, de
torneiras
em desuso. Respiro e não deixo de olhar.
Até ao fim não deixarei de olhar.
Que trabalho é este, oculta e extinta
miséria
sob os nossos passos?
As janelas com os vidros quebrados, o
plástico
por cima dos horizontes perdidos
da transparência. Porque insistes?
Porque ficas
à entrada da casa, perdido no olhar
e na memória do que nunca chegou a ser?
Luís Filipe Castro Mendes em Poemas Reunidos
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