Tempo das cerejas agressivas
A avançar pelo meu quarto dentro.
Velho tempo das noites explosivas
Em que o sangue crescia como o vento!
Tempo –aproximação das coisas vivas,
Do seu hálito doce, violento.
Tempo – horas e horas convertidas
No outro raro e inútil dum lamento…
Tempo como uma ferida no meu lado,
Coração palpitando sobre a lama.
Tempo perdido, sangue derramado,
Resto de amor que se deixou na cama
Horizonte de guerra atravessado
Pelo corpo audaciosos duma chama.
Alexandre O’Neill em No Reino da Dinamarca
5 comentários:
"Tempo das cerejeiras agressivas..."
O poema do Alexandre O’ Neill é copiado da edição de 1967 de «No Reino Da Dinamarca» publicado pela Guimarães Editores na sua Colecção Poesia e Verdade.
É provável que O’ Neill tenha feito alguma modificação numa edição futura do livro.
De qualquer forma muito obrigado pela sua colaboração.
Eu conhecia o poema pela edição das «Poesias Completas 1951/1983» da Imprensa Nacional (1984). É possível a palavra ‘cerejas’ dessa edição de «No Reino da Dinamarca» ser uma gralha, visto que assim o verso fica com apenas nove sílabas; com ‘cerejeiras’ temos o clássico decassílabo dos sonetos.
Abraço
Entre cerejas e cerejeiras está correcta a sua afirmação no que ao soneto diz respeito.
Na Biblioteca da Casa também existe essa edição da Poesia do O’Neill, da Imprensa Nacional. em que se pode ler que é uma edição revista e aumentada. Revista por quem? Pela Clara Rocha, a organizadora do volume? Ou pelo O’Neill, um libertador de imagens e de imprevistos que, segundo os que o estudam, é impossível fazer o inventário?
Também existe na Biblioteca, o «Tomai Lá do O’Neill», antologia organizada pelo António Tabucchi, mas o «Soneto» não foi antologiado.
Quanto a ser gralha, a questão não (?) se coloca porque nas «Erratas», no fim de «No Reino da Dinamarca», existem 9 de «Deve ler-se…» e dessas qualquer gralha no «Soneto» não é mencionada.
Um abraço pela útil troca de impressões.
Ainda há Futuro!
Agradeço as informações. E tem razão, com o O'Neill nunca se sabe (mas eu fico com as 'cerejeiras': é o costume, depois de tantos anos). Agradeço também o desfecho das suas palavras que me fez sorrir.
E uma "curiosidade": comprei o meu livro do O'Neill em Lisboa no dia 21 de julho de 1986. Alguém que o conhecia, disse-me que ele não andava muito bem. E morreu a 21 de agosto! Essas coisas do acaso...
Enfim, vamos lá para o Futuro!
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