sexta-feira, 1 de dezembro de 2017

OLHAR AS CAPAS


No Interior da Tua Ausência

Baptista-Bastos
ASA Editores, Porto, Novembro de 2002

Ainda não há muito gostava de ver o rio. Seguia com o olhar o manso tremular, contava as ondas que se monteavam, ligavam, desfaziam e reapareciam noutras ondas, como ressurreições obstinadas e espantosas, e era o mesmo rio, a mesma água que corria para o mar, e o mar era a fuga do desterro em que fenecia, sem revolta, sem se debater, com submissão. Porém, nunca ousara sair por inércia, por ócio, por indiferença, mas também porque entendia, cansado e triste, ser impossível fugir de si próprio. O local de onde se é anda sempre atrás de nós, por muito que desejemos abolir o passado e anular lembranças. E as grandes viagens começam por pequenos passos no interior de nós mesmos.

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