sábado, 13 de setembro de 2014

OLHAR AS CAPAS


Caderno de Significados

Agustina Bessa-Luís
Selecção, organização e fixação de texto: Alberto Luís e Lourença Baldaque
Edição Babel, Lisboa, Outubro de 2013

Tempos áureos em que ler um livro era uma descoberta ao mesmo tempo simples e maravilhosa. Creio que James Joyce fala da deliciosa emoção de temas como A Filha do Capitão, de Pouchkine. A banalidade era de uma indescritível sedução, com tantos bandidos, mulheres indefesas, duma juventude eterna e cabelos que não embranqueciam. Agora, esse prazer acabou; não leio mais com nervosismo as peripécias dos grandes folhetinistas, nem os piratas de Mindanau me fazem impressão. Salgari, os contistas russos, a melancolia da história sem objectivo, tudo isso não tem mais lugar na minha vida. Agora inclino-me para livros sábios e astuciosos; mas não gosto deles. O prazer tem que nos intimidar, para ser sincero. Os livros já não me intimidam; quer dizer que não me alegram nem fazem chorar. São panfletos ou são tratados, mas já não são aquele livro que se lia depressa, comendo maçãs, e deixando ao acaso a alma em que o segredo suspira

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