Caderno
de Significados
Agustina
Bessa-Luís
Selecção,
organização e fixação de texto: Alberto Luís e Lourença Baldaque
Edição
Babel, Lisboa, Outubro de 2013
Tempos
áureos em que ler um livro era uma descoberta ao mesmo tempo simples e
maravilhosa. Creio que James Joyce fala da deliciosa emoção de temas como A
Filha do Capitão, de Pouchkine. A banalidade era de uma indescritível sedução,
com tantos bandidos, mulheres indefesas, duma juventude eterna e cabelos que não
embranqueciam. Agora, esse prazer acabou; não leio mais com nervosismo as
peripécias dos grandes folhetinistas, nem os piratas de Mindanau me fazem
impressão. Salgari, os contistas russos, a melancolia da história sem
objectivo, tudo isso não tem mais lugar na minha vida. Agora inclino-me para
livros sábios e astuciosos; mas não gosto deles. O prazer tem que nos
intimidar, para ser sincero. Os livros já não me intimidam; quer dizer que não
me alegram nem fazem chorar. São panfletos ou são tratados, mas já não são
aquele livro que se lia depressa, comendo maçãs, e deixando ao acaso a alma em
que o segredo suspira
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