terça-feira, 30 de setembro de 2014

AS PLANTAS TÊM O SEU DESTINO


Alisubbo é errante como alma. Não para desde o nascer ao pôr-do-sol e, mal se senta, um novo trabalho desponta, por vezes um nada que ele efectua minuciosamente afirmando que as plantas têm o seu destino. Profere também frases enigmáticas e eu creio que foi por causa desse aldo envolvente que Luís M. e a Grande Dama me enviaram para aqui. Mal acaba de regar a horta sobe à cidade na madrugada limpa de sangue sem que eu saiba que sítio de Lisboa é esse domínio; quando regressa, cultiva-se com a terra; quando planta as batatas fá-lo com rigor e, ao mesmo tempo, eleva-as no ar e diz-lhes uma palavras antes de as cobrir, Faz a sesta de maneira irrequieta levantando-se mil vezes para cuidar um tronco, desviar ou matar insectos, erguer um feijão verde, ou trepadeira, dar água a um pé de milho que seca na sede; nem à noite se acomoda definitivamente para dormir.

Maria Gabriela Llansol em Na Casa de Julho e Gosto

Legenda: imagem de Judi Harris 

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