quinta-feira, 26 de setembro de 2019

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O que aparece, hoje, em Olhar as Capas, António Lobo Antunes: 20 Anos na Dom Quixote, é um folheto que celebra a data em que António Lobo Antunes começou a publicar a sua obra na Dom Quixote sob a batuta de Nelson de Matos.

«O editor agradece a confiança e a amizade presentes nestes 20 anos de trabalho em conjunto.»

Palavras de Nelson de Matos que invocam uma coisa simples que deve existir entre escritor e editor: a amizade.

Os cemitérios estão repletos de gente insubstituível, mas a saída de Nelson de Matos da Dom Quixote, redundou na perca da credibilidade que era timbre da editora.

Publicar livros não se coaduna com a inimportância-do-rapaz-corredor-de- automóveis que pariu a LEYA.

O folheto reproduz uma crónica de António Lobo Antunes, que faz parte do seu segundo volume de Crónicas e que o autor titulou como «Receita para me lerem».

Nessa crónica, falando de William Faulkner, Lobo Antunes escreve:

« Faulkner, de que já não gosto o que gostava, dizia ter descoberto que escrever é uma muito bela coisa : faz os homens  caminharem sobre as patas traseiras e projectarem uma enorme sombra.»

Parafraseando o autor, digo:

 «António Lobo Antunes, de que já não gosto o que gostava…»

É uma verdade.

Nos dias que correm, só me consigo entender com as crónicas que o autor escreve para os jornais e que, numa decisão incompreensível, deixou de as reunir em livro. Apenas estão publicados cinco volumes, o último publicado em Outubro de 2013, e não mais existirão, pelo menos em vida do autor.

O último livro que comprei foi Exortação dos Crocodilos, Outubro de 1999.

 Não terminei a sua leitura, assim como  Auto dos Danados,  A Ordem Natural das Coisas, O Esplendor de Portugal, O Manual dos Inquisidores, razão porque não entraram em Olhar as Capas.

Mas por esse tal Lobo Antunes de que gostei, não perguntem por pormenores, vou regressar a estes livros nunca acabados.

Numa destas quintas-feiras, num tasco na Rua Angelina Vidal, encontrei o Vitorino que ensaia, com a sua banda, por aqueles lados. Perguntei-lhe:


-Eh pá!, não. O Lobo Antunes está um chato do caneco!!

2 comentários:

Luis Eme disse...

O último que li foi o "Manual dos Inquisitores".

Penso que ele se esqueceu de como se conta uma história, Sammy...

Sammy, o paquete disse...

Há uma boa porção de coisas que António Lobo Antunes, no passar dos tempos, foi esquecendo, Caro Luís Eme.
Há uns meses atrás, reli duas entrevistas dadas por Lobo Antunes. Uma a Rodrigues da Silva, publicada no «Diário Popular» de 18 de Outubro de 1979, outra, a Carlos Miranda, publicada em «A Bola» de 12 de Abril de 1980. Excelentes entrevistas, diga-se.
Uma alegria, uma ingenuidade, uma humildade dignas de nota.
O que falta ao Lobo Antunes dos últimos anos é aquela humildade que salta das palavras daqueles primeiros tempos de escrita. Humildade. Algo que o meu avô paterno dizia ser daquelas coisas que diferenciam quem quer que seja.
Como me dizia o Vitorino: «O Lobo Antunes está um chato!»