sexta-feira, 6 de setembro de 2019

NÃO HÁ FESTA COMO ESTA!


Abre hoje a 43ª Festa do Avante.

Ruben de Carvalho deixou-nos no passado dia 11 de Junho.

Pela primeira vez não teremos a sua presença física de Ruben de Carvalho.

A Festa é um trabalho colectivo, mas desde o primeiro instante teve a talentosa e sábia intervenção do Ruben.

Relembro, naquele ano de 1976, o tempo que demorei até entrar no apinhadíssimo  pavilhão da velha FIL na Junqueira.

A Festa que Portugal nunca tinha visto!

O Mário-Henrique Leiria, então director do semanário Aqui, recorte no topo do texto, escreveu que apanhou pinhão de criar bicho, que estiveram lá 100.000 pessoas, ou mais, e que pró ano vai arranjar-se espaço para que caibam 500.000, diz o Álvaro.

E assim foi

No ano seguinte a Festa estava no Vale do Jamor.

Um estrondoso êxito, mas no segundo ano, trataram de dizer que ali não podia ser mais. Necessitavam do terreno para a construção de um campo de treino que nunca chegou a ser concretizado

A Festa viajou, então, para o Alto da Ajuda.

Melhor ainda.


Na Ajuda, a Festa esteve de 1979 a 1986, o tempo em que o então presidente da Câmara, Abecassis de seu apelido, disse que precisava do terreno para a construção da Faculdade de Arquitectura cujo início de obras só veio a acontecer passados 5 anos.

Em 1987, problemas logísticos não permitiram a sua realização.

Em 1888 a Festa mudou-se para a Quinta do Infantado em Loures..

Perdeu brilho.

Esteve lá só mais um ano  e o Partido entendeu que não mais se poderia andar com a Festa às costas.

Uma aguerrida angariação de fundos permitiu a compra da Quinta da Atalia na Amora, Seixal.
Tudo feito de raiz e se a Festa já era o que era, melhora de ano para ano.

Logo, ao cair da tarde, sempre que se ouvir a «Carvalhesa», sentiremos o Ruben  ao nosso lado.

Num tempo em que Portugal não vivia os grandes concertos que se faziam pelo mundo, o que nos dias de hoje se tornaram banalidade, a Festa do Avante era o único espaço para ver o que de melhor Rubem de Carvalho conseguia trazer até Lisboa.

Para ajudar um velhote a compor a sua parca reforma, dei-lhe uma série de revistas para que fossem encadernadas, casos da Seara Nova, de O Cinéfilo, e os primeiros programas da Festa do Avante.


Baseado nesse volume, consigo ter uma ideia dos artistas que passaram pela festa.

Raro será o artista português que não tenha passado por um dos palcos da festa, seria longa essa lista, pelo que apenas deixo, e só até 1985,  alguns dos artistas estrangeiros que por lá actuaram:

1976: Pi de la Serra, Area, Archie Shepp. Luigi Nono

1977: Soledad Bravo. Miriam Makeba, Fairport Convention

1978:  Charlie haden, Colette Magny

1979: Mercedes Soza, Max Roach, Richie Havens

1980: Tom Paxton, Chico Buarque de Holanda, Edu Lobo, Simone, MPB4

1981: Ivan Lins, Lúcia Lins, Dexys Midnight Runners

1982: Baden Powell, Odetta, Josh White, Manu Dibango, Buffy Saintt-Marie

1983:  Judy Collins, Elba Ramalho, Luís Gonzaga

1984: Alceu Valença, Waldemar Bastos

1985: The Band, Holly Near .

Em 1976 a EP custava cem escudos (100$00), em 1985 trezentos e cinquenta escudos (250$00. 

No ano de 2001 o preço cifrava-se em dois mil e cem escudos.

Este ano, a EP custa vinte e seis euros.

Legenda: recorte do semanário Aqui de 5 de Outubro de 1976, páginas dos programas da Festa para os dias em que actuaram Tom Paxton. Chico Buarque de Holanda e Juddy Collins.

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