segunda-feira, 12 de dezembro de 2022

CONVERSANDO


 Quando num alfarrabista das Escadinhas do Duque, deparei-me com A Balada do Café Triste, apenas conhecia Carson McClullers de nome, e não hesitei em trazer o livrinho para casa.

Na contracapa o editor não deixou de colocar a opinião de José Rodrigues Migueis, tradutor de  Coração Solitario Caçador, da mesma autora: «O caso mais impressionante da actual literatura norte-americana.»

«A Balada do Café Triste» narra o encontro, num pequeno povoado norte-americano, de Miss Amélia, um corcunda que se afirma vagamente seu primo e um condenado, Marvin Macy, que regressa da prisão para se vingar de um repúdio antigo. A particular sensibilidade de Carson McCullers transforma este encontro de paixões numa história bela, estranha e nostálgica que termina com um combate entre Miss Amelia e Macy no café que depois disso permanecerá para sempre triste.»

Os restantes livros Carson McCullers,  não tardaram em encontrar lugar por aqui.

Mas há dias, pequeno passeio pela Biblioteca da Família, deu para verificar que um qualquer pássaro terá levado Relógios Sem Ponteiros. Que se passou? Algo para desvendar após os dias natalícios.

Mas o passeio, nunca há passeios inúteis pela Biblioteca da Casa,  deu para pegar  em  Reflexos Nuns Olhos de Oiro

Um livro, que é um verdadeiro arraso, uma capa muito bonita, uma excelente tradução de Cabral do Nascimento e que deu um excelente filme de John Huston com Elizabert Taylot e Marlon Brando.

Minuto para recordar a malta dos meus tempos do Piolho em que ninguém se importava com o realizador, antes a pergunta sacramental: «com quem é a fita?

Agora, que chove desalmadamente em Lisboa, apetece-me copia a citação da página 59:

– És feliz? – perguntou-lhe inopinadamente a senhora.

O filipino não era desses que se perturbam com uma pergunta íntima e inesperada.

– Sou – respondeu logo, sem hesitar. – Quando a senhora também o é.

O sol e a luz do lume brilhavam no quarto. Oscilava na parede um raio luminoso, que Alison observava, enquanto ouvia distraída o monólogo do rapaz.

– O que me custa compreender é que se saiba – dizia ele. Muitas vezes principiava a conversa por uma alusão vaga, misteriosa, como esta. Era preciso esperar um pouco para apreender o sentido das suas palavras. – Só depois de estar muito tempo aqui- é que percebi que a senhora sabia. Agora creio que toda a gente… excepto o senhor Sergei Rachmaninov.

– De que é que estás a falar?

– Minha senhora, acredita mesmo que o senhor Sergei Rachmaninov saiba que uma cadeira é uma coisa sobre a qual nos sentamos ou que esse relógio marca as horas? E se eu tirar um sapato e lho meter à cara, dizendo: «Que é isto, senhor Rachmaninov?», o senhor pianista será capaz de responder, como qualquer pessoa, «É um sapato»? Custa-me tanto a crer!

3 comentários:

Seve disse...

Carson McCullers - para ler e reler; uma escritora absolutamente genial!

Sammy, o paquete disse...

Tenho que procurar uns contos de Carson McCullers, escolhidos por Ana Teresa Pereira, e publicados pela Relógio d’Água salvo erro no ano passado. Embora entenda que os romances de Carson é que são o seu grande trajecto, não gostaria nada, mas mesmo nada, de ficar no vazio de não ler os seus contos.

Seve disse...

Dos livros traduzidos em Portugal também só ainda não tenho estes Contos Escolhidos (Relógio de Água).