sexta-feira, 9 de dezembro de 2022

LA NAVE VA!...

A Assembleia da República aprovou hoje o diploma que regula a prática da eutanásia, apresentado pela Comissão de Assuntos Constitucionais, Direitos, Liberdades e Garantias e que tem por base as iniciativas legislativas apresentadas pelo BE, PS PAN e IL.

O diploma aprovado vai ser apreciado pelo presidente da República Portuguesa, que pode solicitar a fiscalização preventiva ao Tribunal Constitucional ou vetar.

A Ordem dos Médicos voltou esta segunda-feira a manifestar-se contra a despenalização da eutanásia, argumentando que esta prática viola a ética e a deontologia dos médicos, que "estão preparados para salvar vidas.

Que se pode esperar desta gente?

João Semedo que foi sempre um defensor da Euranásia:

 «Eu não quero impor a eutanásia seja a quem for, mas não aceito que me imponham opções que não são as minhas. Muito menos quando a consequência dessa imposição é sofrer mais ou reduzir-me a um estado vegetativo.»

O médico e escritor Fernando Namora morreu em Janeiro de 1989.

Até morrer, sofreu horrivelmente.

O Dr. José Luciano de Carvalho que, durante anos e anos, assistiu a nossa família, quando num dia longínquo lhe perguntei a sua opinião sobre a eutanásia, não se mostrou favorável e contou-me que, durante a doença, ao visitar o seu amigo e colega Fernando Namora, e este lhe pedira, encarecidamente, que o ajudasse a morrer.

- Fernando, sabes tão bem como eu, que não te posso ajudar: fizemos um juramento…

Falava do Juramento de Hipócrates.

E volto a uma história contada pelo José Cardoso Pires:

«Dois velhos a viverem há cinquenta anos numas águas furtadas da Avenida Marginal, frente ao Tejo: ele reformado da construção naval, sentado à cabeceira da mulher que esperava a morte que não vinha, e a olhar os navios que entravam e saíam da barra; a estudar os voos das gaivotas; a confirmar hora após hora os comboios que passavam entre ele o rio por essas praias além; a pensar mundos perdidos para lá dos nevoeiros. E vencido, impotente, porque a mulher há tantos anos, minada por metástases até aos ossos gritava, dormia e respirava dores, implorando a Deus que a levasse, depressa, Senhor, depressa para a sua santíssima presença.

Uma manhã, ao despertar, o velho viu-a por instantes bela e serena como nos seus tempos de amor. E chorou de mansinho e também ele desejou morrer.

Depois sentiu as dores a aproximarem-se de novo, e a escorrer lágrimas de desespero, de cansaço, de saudade, abraçou-se à mulher amada, envolveu-se nela e no seu sofrimento e cobriu-lhe o corpo de facadas.

Suicidou-se atropelado por um comboio, mesmo em frente da janela onde costumava ver passar os navios».

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