quarta-feira, 11 de janeiro de 2023

AS CULTURAS PERDEM COM QUASE TUDO...


 Finais dos anos 50, cheguei a ter um professor de Organização Política que amiúde dizia que a cultura era perigosa e que tivéssemos muita atenção. Comentando o caso com o meu pai, logo disse para me pôr a pau com essa gajada salazarista.

Depois fui aprendendo que a cultura não é um enfeite, antes uma ferramenta para entendermos o mundo.

Decididamente não podemos espantar-nos com as «ideias» (não) culturais dos nossos governos. Têm todos, sem excepção, um soberano desprezo pela cultura, não compreendem que o maior problema do país é de ordem cultural e não apenas de ordem económica e não conseguem distinguir um livro de uma abóbora.

Lembro que um dia, quando Sá Carneiro estava a constituir um dos seus governos, tinha de arranjar um secretário de estado da cultura. Vasco Pulido Valente seu adjunto, foi incumbido de encontrar o tal secretário. Como Sá Carneiro tinha de apresentar a lista do governo ao presidente Ramalho Eanes até às oito da noite, começou a enervar-se. Ligou ao Vasco: «Já tem o SEC?», respondeu um não. «Então vai você, porque não posso apresentar a lista incompleta». O amargo Vasco ainda lhe respondeu que ia ser um fiasco. E Sá Carneiro: «Se for um fiasco logo se vê, mas sempre se ganha tempo.»

Dos 4 ou 5 blogues que leio, O Largo da Memória está nessa lista. Gostei do que li hoje e aqui coloco o texto, dizendo que a fotografia também do é do Luís Eme:

 «Acendeu um cigarro e depois disse: «as salas de teatro voltaram a ter demasiados lugares vagos.»

Antes que eu o interrompesse,  explicou-nos o óbvio. «Sei que não é nenhuma novidade. Acontece sempre que aumenta o preço do pão, do leite, do peixe, da carne...»

E depois fez uma confissão: «É nestes momentos que tenho inveja do futebol. Não há nenhuma crise que consiga tirar os malucos das bancadas dos estádios.»

Levantou-se e antes de nos virar costas, ofereceu-nos mais meia-dúzia de palavras, com um sorriso que tinha tanto de amargo como de derrotista: «As culturas perdem com quase tudo...»

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