quarta-feira, 4 de janeiro de 2023

DOS REBOTALHOS E COISAS ASSIM...


 Sophia Mello Breyner Andresen sempre se admirou por as pessoas celebrarem a passagem do ano, dizia ela que o ano está sempre a passar. Há quem nunca deseje bom ano a ninguém, dizem que dá azar. E há a velha sabedoria que nos diz que os anos só são novos enquanto os novos somos nós.

Se viram um amável filme da norte-americana Nora Ephron, com Meg Ryan e Billy Cristal, When Harry Meet Sally, quase no final, numa festa de fim de ano, Harry reencontra Sally, começam a ouvir-se os acordes de Auld Lang Syne, e Henry diz que nunca entendeu o significado da canção pois diz que os velhos conhecidos devem ser esquecidos ou que se os esquecemos devemos recordá-los, mas como recordar se já os esquecemos? Sally não tem resposta mas, sorrindo, acaba por lhe dizer: seja o que for é uma canção sobre velhas amizades.
Chegamos a bom porto: velhas amizades, lembrar os que já não estão connosco, e os que ainda fazem do Natal a festa dos amigos, celebrar a amizade, e o desejo que a viagem, pelos dias do novo ano, seja uma viagem tranquila.

1.

De trás para a frente, da frente para atrás para que, após lamentável atraso, aconteça a lei que o catolicismo do presidente tem criado dificuldades várias. Marcelo Rebelo de Sousa decidiu enviar para o Tribunal Constitucional o diploma relativo à Eutanásia para confirmar se as exigências formuladas em 2021 estão devidamente rectificadas no novo diploma.

De trás para a frente, da frente para até que, após lamentável atraso, aconteça a lei que o catolicismo do presidente tem criado obstáculos.

Um antiga afirmação de Teresa Beleza, que não tem nada a ver com esta lei, com o que quer que seja:

«Mas a formação dos magistrados é absolutamente essencial, porque já se tornou por demais evidente que ainda hoje há decisões judiciais absolutamente indignas de um país que se diz ser um Estado de direito democrático e tem uma Constituição da República correspondente, que aliás recebe expressamente no seu texto a Declaração Universal como ponto de referência interpretativo privilegiado em matéria de direitos liberdades e garantias.»

 2.

Anemoia: nostalgia de um tempo no qual tu nunca viveste.

3.

Dizem que a televisão fez diminuir a convivência. Não será a dificuldade na convivência que introduz o poder da televisão.

4.

Ando sempre em demanda de livros que gostava de ter, que gostava de recuperar e percorro alfarrabistas, pergunto a amigos, frequento a Loja Frenesi. Há dias estava por lá O Nosso Amargo Cancioneiro, organização e prefácio de José Viale Moutuinho, Edições Latitude, exemplar estimado, capa suja, miolo limpo, 1ª edição, 50,00 euros e IVA e portes incluídos.

Paulo da Costa Domingos, dono da loja, cita o prefácio:

«Acertadamente refere Viale Moutinho, no seu prefácio, «um caminho – o da amargura», ao caracterizar o «momento fecundo da primeira metade de 1972» na intervenção continuada dos cantores sociais, em que um Zeca Afonso, ou um Adriano Correia de Oliveira, ou um Luís Cília, ou um José Mário Branco, ou um Sérgio Godinho foram pontos de referência à navegação de assalto às mentiras do Estado Novo. Num substancial resumo da enorme diversidade de poemas cantados nessa época, vamos encontrar a escrita directa de poetas como Afonso Duarte, Alexandre O’Neill, António Borges Coelho, António Cabral, António Gedeão, António Rebordão Navarro, Carlos de Oliveira, Daniel Filipe, Eduardo Valente da Fonseca, Fernando Assis Pacheco, Fiama Hasse Pais Brandão, João Apolinário, Ary dos Santos, José Gomes Ferreira, Saramago, Manuel Alegre, Maria Teresa Horta, Natália Correia, Orlando da Costa, Raul de Carvalho, Reinaldo Ferreira, Sophia de Mello Breyner, Urbano Tavares Rodrigues, etc.

Outros tempos, estes em que cantores cantavam poetas de referência, em vez de gargarejarem umas coisas que lhes ocorrem no banheiro.»


Sem comentários: