terça-feira, 10 de janeiro de 2023

PADRES QUE DEIXAM DE PREGAR O EVANGELHO...


Do que se passou na Capela do Rato nos últimos dias do ano de 1972, Marcelo Caetano determinou que nada seria referido nos jornais, rádios e televisão, nada seria publicado.

Apenas um comunicado do governo  a dizer que os funcionários públicos, demitidos das suas funções pelo governo, tinham recorrido da decisão para o conselho de ministros, também, após largas discussões do Cardeal Patriarca com o ministro do interior, uma confusa nota do Patriarcado do que então se tinha passado na Capela do Rato.

O Notícias de Portugal era um boletim semanal, da responsabilidade do SNI, enviado para os emigrantes portugueses espalhados pelo mundo. Do que passou na Capela não tiveram qualquer informação. Apenas no discurso de encerramento da reunião anual da Acção Nacional Popular, Marcelo Caetano faz uma curta e destemperada observação:

«A sociedade portuguesa, habituada durante muitos anos à protecção paternalista, não estava preparada para um ambiente de discussão e de luta. Ao ímpeto dos contestatários não se tem oposto mais que hesitante comodismo ou frouxa resistência. Muita gente julga até que tudo – turbulência, desmoralização, demolição – tudo é abertura, tudo está no jogo, tudo faz parte do novo estilo de governo…

Ingènuamente as pessoas querem então estar à moda. Não desejam que as considerem «ultrapassadas». É preciso andar com os novos tempos… e deixam correr ou apressam-se a dizer - «ámen».

Por isso há padres que deixam de pregar o Evangelho para fazer no púlpito a apologia da revolução social, demitem-se os pais da autoridade familiar, as audácias dos costumes chocam cada vez menos os moralistas, professores resignam-se à indisciplina, entram chefes em dúvida acerca da legitimidade do exercício da sua autoridade, olha-se com timidez a acção dos que procedem contra a ordem e contra alei e quase se tem pudor de aplicar sanções ou de usar os meios normais de reprimir ou contrariar as manobras de perturbação ou de obstrução da vida das instituições.»

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