A RTP 1 transmite amanhã, pelas 22,30 horas, um
documentário da autoria de Jacinto Godinho e Carlos Oliveira, Os Caminhos da
Liberdade, em que são abordados os acontecimentos ocorridos no dia 30 de
dezembro de 1972, em que um grupo de cristãos ocupou o interior da capela do
Rato, em Lisboa, como forma de protesto e apelo contra o fim da guerra
colonial.
O documentário está inserido nas comemorações dos 50
anos do 25 de Abril.
No dia 30 de dezembro
de 1972, um grupo de católicos, a que se associariam não católicos, organiza
uma vigília de 48 horas, na Capela do Rato, em Lisboa, para meditar sobre a paz
e sobre a situação vivida nas guerras coloniais.
No dia seguinte, os
participantes aprovam uma moção repudiando a política do Governo de “prosseguir
uma guerra criminosa com a qual tenta aniquilar movimentos de libertação das
colónias” e denunciando a “cumplicidade da hierarquia da Igreja Católica face a
esta guerra”.
Ao final do dia, a
vigília é interrompida pelas forças policiais e os participantes são conduzidos
à esquadra local, sendo que 14 permaneceriam detidos durante duas semanas na
prisão de Caxias. Os funcionários públicos presentes seriam alvo de processos
de demissão, conforme decidido em Conselho de Ministros.
Os acontecimentos da Capela do Rato marcam um dos mais significativos episódios
da luta contra a ditadura. O regime via-se confrontado com mais uma frente de
protesto e luta, vinda donde menos esperaria: do seio da Igreja Católica, um
pecado organizado, tal como diz Sophia.
Nunca a voz da Igreja se fizera ouvir para condenar a guerra colónia, as
perseguições da PIDE, a tortura e a morte. Os acontecimentos da Capela do Rato
determinaram que nada seria como antes: estes católicos e não católicos,
acusados pelo governo, como traidores à Pátria, diziam ao país
que viam ouviam e liam e não mais poderiam continuar a ignorar.
Entre as cerca de setenta de pessoas detidas pela PIDE na Capela
do Rato, encontravam-se doze funcionários públicos que, por
decisão do Conselho de Ministros, publicada no Diário do Governo de 13 de Janeiro,
foram demitidos das suas funções.
Em 20 de Janeiro os funcionários demitidos recorreram da
decisão governamental.
Em 23 de Fevereiro de 1973, por resolução do Conselho de
Ministros, negou provimento ao recurso apresentado pelos funcionários públicos.
No dia 11 de Janeiro de 1973, o Diário de Lisboa, publica
uma Nota do Patriarcado acerca dos protestos de católicos, e não católicos:
Uma carta do
Padre Sampaio para o Padre Bertulli:
«Sinto-me reduzido a uma igreja de silêncio, em que a
verdade é escondida e o Evangelho traído descaradamente».
Algures no tempo, Manuel António Pina escreveu:
«Porque houve um tempo em que tivemos esperança. E, provavelmente, fé. Um tempo em que acreditámos em coisas maiores, em palavras e ideias por que valia a pena morrer. Também, no entanto, as nossas palavras, mesmo as mais desmesuradas, sucumbiram à trivialidade e à pequenez. E hoje olhamos em volta e vemos muitos dos que connosco partilharam a confiança e a esperança entre as piores dos porcos, dos feios e dos maus.»
No LP Canções da Cidade Nova de Francisco Fanhais encontra-se Cantata da Paz, poema de Sophia Mello Breyner Andresen e música de Rui Paz, cantada na vigília da Capela do Rato.
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