Dando destino aos jornais e revistas que se vão acumulando por aqui e por ali, dei com um Fugas do Público de 23 de Julho de 2022 em que Edgardo Pacheco escrevia o obituário de Maria de Lourdes Modesto.
«Conheci Maria de Lourdes Modesto, que morreu
esta terça-feira aos 92 anos, em meados dos anos de 1990, num dos Congressos de
Gastronomia do Minho, organizados por Francisco Sampaio e Nuno Lima de
Carvalho. Eram encontros estupendos porque, entre debates sobre papas de
sarrabulho e as estratégias para o turismo termal, havia sempre tempo para se
chegar a estados etílicos alegres e em diferentes escalas, tais eram as
solicitações das adegas da região para a aferição da qualidade do Alvarinho, do
presunto e dos enchidos variados.
O grupo de Lisboa ia para o Minho num autocarro fretado. À frente, os palestrantes, a meio, uns eruditos (com o jornalista António Valdemar à cabeça) e, atrás, a maralha, liderada por esse pândego cativante que era o Hélder Pinho – conhecido no universo gastronómico como Dom Pipas (Capital).»
Guardei o recorte porque a sua morte mandou-me para os
tempos dos meus 13/14 anos em que determinados programas, na televisão
Nordmend, a preto e branco, não tinham outros assistentes que não o avô, eu e o
gato Trafaria.
Ali ficávamos os dois, o Trafaria, ronronando,
aconchegado nos joelhos do meu avô, olhando as habilidades culinárias da então
colaboradora semanal da televisão-canal-único, a sua simpatia, o trato fácil, excelente
comunicadora, era professora no Liceu francês, os seus gestos, o seu grande
sorriso, o gosto pela cozinha alentejana, Beja a viu nascer, um tempo em que
não havia «chefs», apenas cozinheiro(a)s que falavam do que portuguesmente
queriam saber, e José Quitério no seu Histórias
e Curiosidades Gastronómicas, chamou a Maria de Lourdes Modesto, uma das
cada vez mais raras Guardiãs do Fogo.
Mas o recorte também ficou guardado porque Edgardo
Pacheco falava do Helder Pinho, meu grande amigo, jornalista, desde os primeiros
números, de A Capital, das andanças e trangalhadanças de D. Pipas.
Saudades.
Curiosamente, há dias, guardei uns recortes em que Jorge Pereirinha Pires, no «Expresso» escrevia sobre os portugueses na Califórnia («O primeiro europeu a chegar à costa da actual Claifónia foi, como, como se sabe, João Rodrigues Cabrilho. Natural da freguesia de Cabril, perto de Pitões das Júnias, no concelho de Montalegre.») e onde era referido o nome de Helder Pinho e o livro, Portugueses na Califórnia, que reuniu as reportagens que realizou para A Capital», com prefácio de Jorge de Sena.
«Pede-me Helder Pinho algumas palavras de apresentação do seu livro sobre os portugueses na Califónia que ele publicou por Abril e Maio do corrente ano (1977), no jornal A Capital, e que representavam a soma das suas pesquisas e contactos de jornalista consciencioso e lúcido como poucos, para tão complexo tipo de reportagens jornalisticas e/ou literárias. Pelo que até aqui já vai dito é óbvio que os contactos que com ele tive já vai dito é óbvio que os contactos que com ele tive, o modo como o vi actuar, o que ouvi da actuação dele junto das várias pessoas, e os textos que li atentamente e com prazer e enorme proveito (quem de todos nós faz deste estudos brilhantes e ao mesmo tempo da funda seriedade e sólida documentação, se escreve de gentes e lugares que foi ver só para escrever deles?), me fazem julgar o autor como um admirável e os artigos que ele publicou como nada de efémero, e sim como essencial base documental para entender-se o problema dos portugueses e seus descendentes no estrangeiro, e em particylar na América do Norte.»
Conversando, o meu amigo Helder Pinho, Jorge de Sena, o meu avô, o gato
Trafaria, Maria de Lurdes Modesto, a rara Guardiã
do Fogo, como lhe chamou José Quitério, uma televisão Nordmend, a preto e
branco, comprada a prestações, que levou anos e anos a pagar, e o primeiro programa
que nessa televisão vi, «Nat King
Cole Show» e em boa hora isso aconteceu, memórias e mais memórias…
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