À Noite Logo Se Vê
Mário Zambujal
Capa: Antunes
Círculo de Leitores,
Lisboa, Setembro de 1986
Esquisito, não é? Noite clara, estrelada, riscadinha até de pirilampos,
e agora, zás!, um nevoeiro assim. Parece algodão doce.
Por quê doce, querido?
Tudo é dpce quando tu estás.
Doçura tua, caramelo. Mas cuidado, Mino, olha a estrada.
Olhar eu olho, bombom, o problema é ver. Sabes, do olhar ao ver, vai
distância.
Distância, pois: a que distância estaremos? Falaste em trinta
quilómetros.
Trinta, quinze, oitenta e oito, tudo é relativo, Natinha. Os teus
trinta e sete anos, recatados e adubadinhos de creme, valem bem vinte e três.
Agradecida. E isso, Mino, a propósito de quer?
Da subjectividade aritmética.
Poupa-me filho.
Ou seja: trinta quilómetros em nevoeiro de chantili equivalem a uns
cinquenta com nevoeiro decente, setenta e cinco em caso de neblina e uma longa
viagem com tempo bom.
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