Finais dos anos 50, cheguei a ter um professor de Organização Política que amiúde dizia que a cultura era perigosa e que tivéssemos muita atenção. Comentando o caso com o meu pai, logo disse para me pôr a pau com essa gajada salazarista.
Depois fui aprendendo
que a cultura não é um enfeite, antes uma ferramenta para entendermos o mundo.
Decididamente não
podemos espantar-nos com as «ideias» (não) culturais dos nossos governos. Têm
todos, sem excepção, um soberano desprezo pela cultura, não compreendem que o
maior problema do país é de ordem cultural e não apenas de ordem económica e não
conseguem distinguir um livro de uma abóbora.
Lembro que um dia,
quando Sá Carneiro estava a constituir um dos seus governos, tinha de arranjar
um secretário de estado da cultura. Vasco Pulido Valente seu adjunto, foi
incumbido de encontrar o tal secretário. Como Sá Carneiro tinha de apresentar a
lista do governo ao presidente Ramalho Eanes até às oito da noite, começou a enervar-se.
Ligou ao Vasco: «Já tem o SEC?», respondeu um não. «Então vai você,
porque não posso apresentar a lista incompleta». O amargo Vasco ainda lhe
respondeu que ia ser um fiasco. E Sá Carneiro: «Se for um fiasco logo se vê,
mas sempre se ganha tempo.»
Dos 4 ou 5 blogues
que leio, O Largo da Memória está nessa lista. Gostei do que li hoje e aqui
coloco o texto, dizendo que a fotografia também do é do Luís Eme:
Antes que eu o
interrompesse, explicou-nos o óbvio. «Sei que não é nenhuma novidade.
Acontece sempre que aumenta o preço do pão, do leite, do peixe, da carne...»
E depois fez uma
confissão: «É nestes momentos que tenho inveja do futebol. Não há nenhuma crise
que consiga tirar os malucos das bancadas dos estádios.»
Levantou-se e antes
de nos virar costas, ofereceu-nos mais meia-dúzia de palavras, com um sorriso
que tinha tanto de amargo como de derrotista: «As culturas perdem com quase
tudo...»
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