Partirei para as terras do fogo sem colocar, neste Cais, metade que seja dos livros da Biblioteca da Casa.
A morte de António
Cartaxo deu para, tristemente, constatar que nunca coloquei no Olhar as Capas, o
livro Quase Verdade Como São Memórias, se bem que andam a apssear por aí alguns
excertos. Apenas Ao Sabor da Música chegou ao Olhar. E terei que voltar aos
alfarrabistas para tentar encontrar os restantes livros: BBC Versus Portugal.
História de um Despedimento Político, Palavras em Jogo, O Meu Primeiro Mozart. Efemérides
Românticas.
Porque António
Cartaxo escrevia muito bem, para além de ser um extraordinário divulgador de
músicas e suas histórias. Tinha uma bela voz e é responsável pela formação de
uma vasta legião de amantes da música clássica. Eu, que já trazia o vício cedido pelo meu pai,
ampliei esse gosto com o contributo do António Cartaxo.
Uma vida cheia, uma
alegria transbordante que proporcionou a uma série de gente, gente interssada.
Como ele um dia disse, citando um filósofo: «Dizem mais os que dizem menos.»
Se forem ao site da
Antena 2 poderã encontrar alguns dos programas que Cartaxo, exemplarmente,
deixou por ali e pena foi que não o tivessem aproveitado muito mais.
A morte de quem
gostamos marca-nos sempre. Ainda hoje aqui não consegui colocar uma palavra que seja
sobre a morte de Chalana, o pequeno genial.
Apesar de ter sido
professor na Faculade de Letras, António Cartaxo dizia que não se imaginava
viver sem rádio.
Gostava de música, gostava de a divulgar, gostava de viver, gostava dos outros, gostava do Benfica: «O meu irmão fez-se sócio do Benfica e o cartão passou a dar para os dois. Como? Do topo norte da bamvada de sócios do Bemfica, ele lançava-me um projéctil com o cartão atado para o campo de treinos do Sporting, de acesso livre , contíguo ao campo do Benfica, onde eu aguardava a queda do embrulho. Com o mesmo cartão de sócio entrava eu a seguir. Vi assim num campeonato todos os jogos que o Benfica disputou em casa.»
O meu avô Mário,
republicano histórico, anti-clerical e benfiquista, a dizer-me num tempo
qualquer: «Seríamos pessoas diferentes, outras mesmo, se não fôssemos do Benfica.»
Em memória de António
Cartaxo, enquanto escrevo este texto, uma peça de que Cartaxo muito gostava, A
Porta de Kiev, último quadro de Quadros de Uma Exposição de Mussorgsky:
«Fiel a um primeiro
amor, conto-me hoje entre os mais devotos colecionadores de Quadros de Uma
Exposição».
3 comentários:
O meu avô Mário, republicano histórico, anti-clerical e benfiquista, a dizer-me num tempo qualquer: «Seríamos pessoas diferentes, outras mesmo, se não fôssemos do Benfica.»
Afinal, nós, os SPORTINGUISTAS, teremos razão quando dizemos: somos diferentes...
O meu avô deliciava-se com estas afirmações em que o seu benfiquismo atingia os píncaros da lua e a mim faziam-me sorrir e esta, e outras afirmações, recordo-as com uma nostalgia saudável e saudosa, algo que marcou o meu tempo de criança e adolescente.
E que saudável era esta deliciosa rivalidade!
Comparando com os tempos que correm apenas me apetece dizer que, na natureza, nada se perde mas tudo se transforma.
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