. Certas mortes
deixam-me completamente desamparado.
Quando em Agosto morreu
Chalana, o pequeno genial, dos mais extraordinários artistas do pontapé na bola
que vi jogar, não aconteceu uma única linha, tão pouco a sua morte foi aqui
registada.
Agora com Pelé, numa morte
anunciada, que ao tombar do ano nos deixou.
Também não me saíu o que
queria dizer sobre a genialidade de Pelé. Apenas umas palavras na janela de
comentários a propósito do que aqui ficou dito sobre a não referência à sua
morte.
Acontece que hoje, na
habitual viagem pelos pouquíssimos blogues a que presto atenção, Manuel
S. Fonseca aparecia a falar de Pelé. E quando outros dizem as coisas
melhor do que eu possa dizer, não hesito. Aqui está o texto do Manuel Fonseca e
com fotografia que também publicou:
«Na morte de Pelé nem uma lágrima. Um sorriso, um
tremor apenas. Rola-me pela face um grão de nostalgia, julgo que a nostalgia de
1965, se é que lhe consigo dar uma data. Havia um cineminha num pequeno clube
de Luanda, o Vila Clotilde, o Vilinha. Ou seja, havia uma tela e projectavam-se
lá filmes. E, antes dos filmes, nessa Angola colonial, que nunca soube o que
era televisão, exibiam-se imagens de actualidades. Eis o que vi, um
URSS-Brasil. E não juro que tenha sido o que, nesse ano, se jogou na pátria dos
sovietes, se o que se jogou no Maracanã.
Sei que era o “futebol científico” contra a imparável
rebeldia do samba e bossa nova. E olhem, Pelé está à entrada do meio campo da
URSS e metem-lhe a bola. Cai-lhe pela direita um russo e Pelé passa-lhe a bola
em arco sobre a cabeça. Mas logo, pela esquerda, lhe tomba outro russo em cima.
Sem deixar cair a bola que vem do primeiro arco, Pelé faz novo arco, em sentido
contrário – ualálá – e o russo passa, perdido, como um comboio descarrilado,
sem saber onde vai parar.
Esses dois movimentos estão gravados na minha cabeça
nostálgica como dois arcos de uma capela perfeita. Já me esqueci de certos
romances de Faulkner, de alguns contos de Borges, de um ou outro filme de
Hawks. Do que fez o pé divino de Pelé, nessa jogada inútil, desinteressada, de
pura ars gratia artis, há em mim um menino exaltado, eufórico, guloso, que
nunca se esquecerá.
Nunca vi Pelé num estádio – ao contrário desse
príncipe chamado Eusébio – mas soube, nessa matinée cheia de miúdos e miúdas de
12, 13 e 14 anos, que estava, num cinema de Luanda, a ver um rei.
Nem uma lágrima hoje, rei Pelé. Um grão de nostalgia,
sim. A mais bela nostalgia, a nostalgia de 1965.
Sua Majestade, até já.»
2.
Na sequência da demissão do ministro Pedro Nuno Santos e
da secretária de estado do Tesouro, Marcelo resolveu acabar de uma penada com
os apelos à dissolução do Parlamento e à convocação de eleições e para que não
surjam equívocos disso que não vê no PSD de Montenegro face à maioria do
governo de António Costa, no fundo o busílis da questão.
Dito o que disse, Marcelo viajou para Brasília para a
posse da presidência de Lula da Silva, acabou por tomar banho de mar
– um clássico! – e já disse que estará em Roma para o funeral do papa Bento
XVI.
3.
«Os meus pais foram trabalhadores da TAP durante
décadas, mas permaneceram nos seus cargos até à reforma, armados em parvos,
nunca lhes ocorrendo abraçar novos desafios a troco de 500 mil euros. Os
trabalhadores que lá continuam fazem periodicamente umas reivindicações
laborais que indicam a intenção suspeita de não renunciar aos cargos que
ocupam. É o que se chama estar agarrado ao lugar, e é provavelmente por isso
que não são premiados como quem tem o desprendimento de renunciar e abraçar
novos desafios. Querem ser remunerados a troco de trabalho, que é uma coisa tão
prosaica e mesquinha. Abracem novos desafios, medricas.»
Ricardo Araújo Pereira, crónica no Expresso
4.
Centenas de banhistas juntaram-se hoje, para o primeiro
banho do ano, na praia de Carcavelos, concelho de Cascais, vigiados pelas
autoridades, em terra e no mar, devido às previsões de agitação marítima que
não se verificaram.
O mundo gira.
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