Mocidade Portuguesa
Jorge Calado
Capa: Magda M. Coelho
Colecção Olhares
Imprensa Nacional-
Casa da Moeda, Lisboa, Outubro de 2022
No verão de 1968, interrompi os trabalhos de doutoramento em Oxford para duas semanas de férias em Portugal. Preparava-me para o meu último ano oxoniano, com a investigação a progredir de vento empopa. Como habitualmente juntei-me aos meus pais no Buçaco para um fim de semana. Lembro-me de estarmos sentados no varandim do hotel a esmoer o almoço, quando o meu pai foi chamado ao telefone. «O Salazar caiu!» era a notícia de um colega de Lisboa. «Não acredito!, acrescentei eu, pensando que a queda era do governo. «Não, o velho caiu da cadeira de repouso e bateu com a cabeça no chão de pedra. A coisa parece ser séria!», explicou o meu pai. A queda do ditador é um daqueles eventos fulcrais – como o assassínio do Presidente Kennedy, a morte estúpida da Princesa Diana ou a destruição terrorista das Torres Gémeas de Manhattan – em que inevitavelmente sabemos onde estávamos quando ouvimos a notícia. Nesse sábado, dia 3 de agosto de 1968, eu estava no Buçaco, O resto não foi silêncio, como no Hamlet; pelo contrário, à semelhança da Criação, de Joseph Haydn, ouvimos luz – a luz bruxuleante da liberdade ao fundo de um longo túnel de quatro décadas de Ditadura.
3 comentários:
São 560 páginas que nos retratam um estilo de vida esquecido; a Lisboa dos anos 50, 60 e não só...fala -se do bairro, dos vizinhos, das férias, de livros, dos cinemas e de filmes. Estou quase a terminar (vou na página 500) "Mocidade Portuguesa" que, segundo o autor, demorou quase 20 anos a escrever. Sem que esteja deslumbrado, estou a gostar e o que tenho aprendido...-ao fugir dos cristãos, o governador de Sintra (mouro) de seu nome Al-Barrak, teria caído morto ao rio (daí o nome de Rio de Mouro). Por perto, fica a freguesia de Albarraque.
Obrigado Sammy pela (excelente) sugestão.
E que bonito é este livro!
Ana Hatherly dizia ontem, por aqui ,que o mar é a sua mais antiga obsessão. Nunca reparei que seja muito de obsessões, mas se alguma tivesse necessidade de declarar seria a leitura. E um livro como este justifica o que digo. É bonito ver um escritor que sente o que escreve e para quem o faz: «Sei que há quem embirre com a minha preocupação com as datas (da publicação das obras ou estreias de óperas e filmes, et.), mas escrevo para poder ser lido por todos e não apenas por quem se julga culto.»
Um livro notável, um livro de encantar e o milhão de coisas que aprende com a sua leitura.
Também obrigado pelas suas amáveis palavras.
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