Diga-se que Deste Mundo e do Outro de José Saramago é um belíssimo livro.
Tem páginas
maravilhosas, palavras largamente sublinhadas.
«Não conhecemos a força do mar enquanto ele não se move. Não conhecemos
o amor antes do amor.»
«A história das pessoas é feita de lágrimas, alguns risos, umas tantas
pequena alegrias e uma grande dor final.»
«… nesta apreensão súbita de um destino ainda por cumprir.»
«Ora, a vida é feita de pequenas e minúsculas tarefas. Escrever é uma
delas.»
No meio do livro
Saramago ainda lembra que os tempos que então corriam, não iam para crónicas.
Mas calcularia ele que os testemunhos que deixou poderiam ser pretexto para uma
dança?
Certamente que não.
Eu próprio, olho o livro, releio algumas palavras, e não estou a fim de pensar
se possível tal coisa.
Assim não pensou a
coreógrafa Olga Roriz.
Uma homenagem à
vida, “A vida é breve, mas cabe nela muito mais do que somos capazes de
viver.”
A 16 de Novembro de
1922 nasce José Saramago. 100 anos depois temos uma herança maior, as suas
palavras, o seu mundo, a sua visão feita pensamento, sentir, emoção.
Saramago descreve e
reflete sobre a humanidade, demonstrando o seu amor e preocupação.
O escritor leva-nos
às profundezas das gentes, dos lugares, de épocas antigas ou por vir onde o
detalhe da escrita nos faz sentir e entrar pelas terras dentro.
A sua obra é uma
visão do mundo e esta peça que agora criámos não poderá ser mais do que um
sentir sobre essa visão.
Caminhadas sem fim
como a passagem da humanidade à face da terra, para carregar o leve e o pesado,
o real e o imaginado. Para carregar a vida.
Uma massa indistinta
de gente, onde cada um já perdeu o centro. Mas ainda há quem lute, quem levante
a voz. Ainda há quem repare no mal alheio. Quem estenda o olhar, a mão e o
coração.
Olga Roriz
Maio 2022»
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