Do que se passou na Capela do Rato nos últimos dias do ano de 1972, Marcelo Caetano determinou que nada seria referido nos jornais, rádios e televisão, nada seria publicado.
Apenas um comunicado
do governo a dizer que os funcionários
públicos, demitidos das suas funções pelo governo, tinham recorrido da decisão
para o conselho de ministros, também, após largas discussões do Cardeal Patriarca
com o ministro do interior, uma confusa nota do Patriarcado do que então se
tinha passado na Capela do Rato.
O Notícias de Portugal era um boletim
semanal, da responsabilidade do SNI, enviado para os emigrantes portugueses
espalhados pelo mundo. Do que passou na Capela não tiveram qualquer informação.
Apenas no discurso de encerramento da reunião anual da Acção Nacional Popular, Marcelo Caetano faz uma curta e
destemperada observação:
«A sociedade
portuguesa, habituada durante muitos anos à protecção paternalista, não estava
preparada para um ambiente de discussão e de luta. Ao ímpeto dos contestatários
não se tem oposto mais que hesitante comodismo ou frouxa resistência. Muita
gente julga até que tudo – turbulência, desmoralização, demolição – tudo é
abertura, tudo está no jogo, tudo faz parte do novo estilo de governo…
Ingènuamente
as pessoas querem então estar à moda. Não desejam que as considerem
«ultrapassadas». É preciso andar com os novos tempos… e deixam correr ou
apressam-se a dizer - «ámen».
Por isso há
padres que deixam de pregar o Evangelho para fazer no púlpito a apologia da
revolução social, demitem-se os pais da autoridade familiar, as audácias dos
costumes chocam cada vez menos os moralistas, professores resignam-se à
indisciplina, entram chefes em dúvida acerca da legitimidade do exercício da
sua autoridade, olha-se com timidez a acção dos que procedem contra a ordem e
contra alei e quase se tem pudor de aplicar sanções ou de usar os meios normais
de reprimir ou contrariar as manobras de perturbação ou de obstrução da vida
das instituições.»
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