sexta-feira, 20 de janeiro de 2023

CONVERSANDO


 Não gosto do título que o Jorge Calado escolheu para as suas memórias lisboetas, ribatejanas, oxfordianas: Mocidade Portuguesa.

Se perguntarem o porquê, nem sei bem explicar, e se calhar nem tem a ver com o atentado de obrigarem rapazes e raparigas de 10 anos, a seguirem pisadas totalizantes-nazi-fascistas para formar homens e mulheres novos ao serviço do regime salazarista.

Adiante.

 O livro foi apresentado no dia 23 de Junho do passado ano, na Biblioteca da Imprensa Nacional pela Alice Vieira, uma velha e querida amiga de Jorge Calado. 

Entrou logo na longa lista de «Livros a Comprar», era para o adquirir na Feira do Livro, mas a única visita feita ao certame foi desastrosa.

Por Dezembro o filho pediu livros para me oferecer como prenda de Natal.

Assim aconteceu.

Folhei-o, como sempre gosto de fazer, mas o sentar para ler, após diversas ressacas natalícias, aconteceu apenas na sexta-feira 13. A 18 estava pronto para entrar no «Olhar as Capas».

Seis dias para ler as 561 páginas de um livro notável que termina assim:

«Hoje sorrio quando penso em Oxford. Foi lá que começou o resto da minha…»

E ficamos desde já à espera de outro livro, para ficarmos a saber dos dias maravilhosos  que são o resto dos trabalhos, dos gostos e vida de um homem entusiasmante.

Continua na minha lista de »Livros a Comprar» , Um Vestido Curto de Festa do escritor francês Christian Bobin, que morreu, com 71 anos, noa dia 24 de Novembro do ano passado. A curiosidade nasceu depois de ler esta passagem na Antologia doEsquecimento:

 «Para que serve ler? Para nada, ou quase nada. É como amar, como jogar. E como rezar. Os livros são como rosários de tinta negra, cada conta rolando entre os dedos, palavra após palavra. E o que é realmente rezar? É silenciar-se. Afastar-se de si no silêncio. Talvez seja impossível. Talvez não saibamos rezar como se deve: há sempre demasiado barulho nos lábios, sempre muitas coisas nos nossos corações. Nas igrejas ninguém reza, excepto as velas. Elas perdem todo o seu sangue. Elas despendem toda a sua chama. Elas não guardam nada para elas, elas dão tudo o que são, e esse dom transforma-se em luz. A mais bela imagem da oração, a mais clara imagem da leitura, sim, seria isto: o desgaste lento de uma vela na igreja fria.»

 Tantos e tantos que se interrogam:

Sim, para que serve ler?

Aqui estaríamos longas horas a falar disso.

 Mas termino com um comentário que encontrei no Público a propósito de uma crónica de Ana Cristina Leonardo:

«Vou contar um pouco de um mim, jovem adolescente e leitor dos livros da biblioteca ambulante. Escolher um livro quando se é pequeno e as estantes são altas, quando se é curioso e não se conhece bem como a literatura se apresenta, pode criar acontecimentos memoráveis. Ler Pascal e tentar percebê-lo com uma imaginação infantil. Requisitar "A Montanha Mágica" e sonhar, no caminho até casa, com uma leitura do género fantástico, ficar decepcionado mas mesmo assim ler até ao fim e com isso compreender a existência de mundos que estariam no futuro da vida por viver. Relê-lo muitos anos mais tarde porque se teve essa experiência na adolescência.»

2 comentários:

Seve disse...

"Para que serve ler" - quantas vezes não me fizeram já essa pergunta...

Seve disse...

A palavra MOCIDADE parece-me até estar consentânea com o conteúdo e intenção do autor e PORTUGUESA porque será, de algum modo, essa mesma que julgo que ele aborda. Só que a instituição marcou tanto uma determinada geração que quando a lemos associamo-la de imediato à organização em causa. Isto é o que eu penso, claro, não sei qual terá sido a intenção (se a houve) do Professor Jorge Calado.
Gostei deste livro, só não digo gostei muito deste livro porque coloquei as expectativas muito altas; li-o em quinze dias.
E depois o livro é, no aspecto físico/estético uma maravilha!