quarta-feira, 24 de dezembro de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ


Silent Night: o clássico dos clássicos das Canções de Natal.
Colaboração de Aida Santos.
 


 

LADAÍNHA DOS PRÓXIMOS NATAIS


 Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que se veja à mesa o meu lugar vazio

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que hão-de me lembrar de modo menos nítido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que só uma voz me evoque a sós consigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que não viva já ninguém meu conhecido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que nem vivo esteja um verso deste livro

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que terei de novo o Nada a sós comigo

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que nem o Natal terá qualquer sentido

Há-de vir um Natal e será o primeiro

em que o Nada retome a cor do Infinito

David Mourão-Ferreira de Cancioneiro de Natal em Obra Poética

terça-feira, 23 de dezembro de 2025

SUBLINHADOS SARAMAGUIANOS


 

José Saramago não gostava do Natal. Tão pouco de festas de aniversário.

Talvez reflexo de uma infância e de uma adolescência muito difíceis o Natal, para Saramago, não foi um toque de mágica. 

Deixou escrito numa crónica; para incréus empedernidos como eu, o caso não tem assim tanta importância: é mais uma das trezentas mil datas assinaladas de que se servem inteligentemente as religiões para aferventar crenças que no passar do tempo se tornariam letra morta e água chilra

De uma maneira seca, quase definitiva, finalizou um poema: É dia de Natal. Nada acontece.

Podia ser Natal e não ser farsa, como escreveu António Manuel Ribeiro numa canção dos “UHF”.

Na obra lida de José Saramago, encontrei três abordagens ao Natal.

O poema Natal em Os Poemas Possíveis,  a crónica A Neve Preta em Deste Mundo e do Outro e outra crónica em A Bagagem do Viajante que, precisamente, intitulou Natalmente crónica.

Tenho conhecimento que na revista “Colóquio/Letras” nº 151/152, Fevereiro 2000, totalmente dedicada a José Saramago, está publicado um conto inédito: Natal.

Fica aqui o excerto de A Neve Preta que consta do livro de crónicas Deste Mundo e do Outro:

«Estes pequenos filhos dos homens têm andado pelas minhas crónicas. Mas de crianças tenho falado como quem as conhece bem, só porque também por lá passou. E agora pergunto: que são as crianças? Dez mil pedagogos se preparam para me responder. Afasto de antemão as respostas, umas que já conheço, outras que adivinho, e torno a perguntar: que são crianças?

Que seres estranhos são esses que viram para nós os seus rostos frescos, que nos perturbam às vezes com um olhar subitamente profundo e sábio, que são irónicos e gentis, débeis e implacáveis, e sempre tão alheios? Temos pressa de os ver crescer, de os admitir no clã dos adultos sem surpresas. Somos impacientes, nervosos, porque estamos diante de uma espécie desconhecida... Quando passam a ser nossos iguais, falamos-lhes da infância que tiveram (a que recordamos, como observadores do lado de fora) e sentimo-nos quase ofendidos porque eles não gostam de ouvir lembrar uma situação em que já não se reconhecem. São adultos, agora: outra espécie humana, portanto.
Nessa infância está, por exemplo, a história que vou contar e que devo a um desses tais encontros de acaso. E depois de eu a reproduzir aqui, dir-me-ão se não tenho razões para insistir: é preciso cuidado com as crianças... Não o cuidado comum, que tende a prevenir acidentes, aqueles que aparecem sob esta rubrica nas notícias dos jornais, mas um outro cuidado, mais melindroso e subtil. Eu explico.
Uma professora mandou um dia aos seus alunos que fizessem uma composição plástica sobre o Natal. Não falou assim, claro. Disse uma frase como esta: «Façam um desenho sobre o Natal. Usem lápis de cores, ou aguarelas, ou papel de lustro, o que quiserem. E tragam na segunda-feira.» Assim ou não assim, os alunos fizeram o trabalho. Apareceu tudo quanto é costume aparecer nestes casos: o presépio, os Reis Magos, os pastores, S. José, a Virgem e o Menino Jesus. Mal feitos, bem feitos, toscos ou apuradinhos, os desenhos caíram na segunda-feira em cima da secretária da professora. Ali mesmo ela os viu e apreciou. Ia marcando «bom», «mau», «suficiente», enfim, os transes por que todos nós passámos. De repente... Ah, mas é preciso muito cuidado com as crianças! A professora segura um desenho nas mãos, e esse desenho não é melhor nem pior que os outros. Mas ela tem os olhos fixos, está perturbada; o desenho mostra o inevitável presépio, a vaca e o burrinho, e toda a restante figuração. Sobre esta cena sem mistério cai a neve, e esta neve é preta. Porquê?
«Porquê?», pergunta a professora, em voz alta, à criança. O rapazinho não responde. Talvez mais nervosa do que quer mostrar, a professora insiste. Há na sala os cruéis risos e murmúrios de rigor nestas situações. A criança está de pé, muito séria, um pouco trémula. E, por fim, responde: «Fiz a neve preta porque foi nesse Natal que a minha mãe morreu...»
Daqui por um mês chegaremos à Lua. Mas quando e como chegaremos nós ao espírito de uma criança que pinta a neve preta porque a mãe lhe morreu?»

José Saramago em Deste Mundo e do Outro, página 189.

MÚSICA PELA MANHÃ

Chris Rea morreu ontem aos 74 anos.

Foi um dos cantores que participou, em 1980, no single de beneficência Do TheyKnow it’s Christmas do super grupo Band Aid.

Como homenagem, é essa a canção desta manhã.



REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL


Um Rosto no Natal

Caiu sobre o país uma cortina de silêncio
a voz distingue o homem mas há homens que
não querem que os demais se elevem sobre os animais
e o que aos outros falta têm eles a mais
no dia de natal eu caminhava
e vi que em certo rosto havia a paz que não havia
era na multidão o rosto da justiça
um rosto que chegava até junto de mim de nicarágua
um rosto que me vinha de qualquer das indochinas
num mundo onde o homem é um lobo para o homem
e o brilho dos olhos o embacia a água
Caminhava no dia de natal
e entre muitos ombros eu pensava em quanto homem morreu por um deus que nasceu
A minha oração fora a leitura do jornal
e por ele soubera que o deus que cria
consentia em seu dia o terramoto de manágua
e que sobre os escombros inda havia
as ornamentações da quadra de natal
Olhava aquele rosto e nesse rosto via
a gente do dinheiro que fugia em aviões fretados
e os pés gretados de homens humilhados
de pé sobre os seus pés se ainda tinham pés
ao longo de desertos descampados
Morrera nesse rosto toda uma cidade
talvez pra que às mulheres de ministros e banqueiros
se permita exercitar melhor a caridade
A aparente paz que nesse rosto havia
como que prometia a paz da indochina a paz na alma
Eu caminhava e como que dizia
àquele homem de guerra oculta pela calma:
se cais pela justiça alguém pela justiça
há-se erguer-se no sítio exacto onde caíste
e há-de levar mais longe o incontido lume
visível nesse teu olhar molhado e triste
Não temas nem sequer o não poder falar
porque fala por ti o teu olhar
Olhei mais uma vez aquele rosto era natal
é certo que o silêncio entristecia
mas não fazia mal pensei pois me bastara olhar
tal rosto para ver que alguém nascia.

Ruy Belo em Todos os Poemas  

segunda-feira, 22 de dezembro de 2025

O OUTRO LADO DAS CAPAS


O livro é uma encantadora homenagem a José Saramago.

Em desenhos e palavras, envolvidos em banda desenhada, ou novela gráfica, o que lhe quiserem chamar, a vida de José Saramago mais a sublime importância dos seus livros.

Um trabalho do galego Tomás Guerrero.

A história dos avós de José Saramago, Josefa e Jerónimo, encontramo-la em duas crónicas que fazem parte de Deste Mundo e do Outro.

Nas cartas trocadas com José Rodrigues Miguéis, José Saramago diz a Miguéis que «ontem (16 de Dezembro de 1968) deu-me para recordar o meu avô camponês – e fiquei assim: amargo. Felizmente para a literatura deu crónica… Manha de literato, defeito de escriba: tudo acaba por se transformar em literatura…».

Será, então no discurso da entrega do Nobel da Literatura, que José Saramago, volta aos seus avós:

 

«O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever. Às quatro da madrugada, quando a promessa de um novo dia ainda vinha em terras de França, levantava-se da enxerga e saía para o campo, levando ao pasto a meia dúzia de porcas de cuja fertilidade se alimentavam ele e a mulher. Viviam desta escassez os meus avós maternos, da pequena criação de porcos que, depois do desmame, eram vendidos aos vizinhos da aldeia, Azinhaga de seu nome, na província do Ribatejo. Chamavam-se Jerónimo Melrinho e Josefa Caixinha esses avós, e eram analfabetos um e outro. No Inverno, quando o frio da noite apertava ao ponto de a água dos cântaros gelar dentro da casa, iam buscar às pocilgas os bácoros mais débeis e levavam-nos para a sua cama. Debaixo das mantas grosseiras, o calor dos humanos livrava os animalzinhos do enregelamento e salvava-os de uma morte certa. Ainda que fossem gente de bom carácter, não era por primores de alma compassiva que os dois velhos assim procediam: o que os preocupava, sem sentimentalismos nem retóricas, era proteger o seu ganha-pão, com a naturalidade de quem, para manter a vida, não aprendeu a pensar mais do que o indispensável. Ajudei muitas vezes este meu avô Jerónimo nas suas andanças de pastor, cavei muitas vezes a terra do quintal anexo à casa e cortei lenha para o lume, muitas vezes, dando voltas e voltas à grande roda de ferro que accionava a bomba, fiz subir a água do poço comunitário e a transportei ao ombro, muitas vezes, às escondidas dos guardas das searas, fui com a minha avó, também pela madrugada, munidos de ancinho, panal e corda, a recolher nos restolhos a palha solta que depois haveria de servir para a cama do gado. E algunas vezes, em noites quentes de Verão, depois da ceia, meu avô me disse: “José, hoje vamos dormir os dois debaixo da figueira.” Havia outras duas figueiras, mas aquela, certamente por ser a maior, por ser a mais antiga, por ser a de sempre, era, para todas as pessoas da casa, a figueira. Mais ou menos por antonomásia, palavra erudita que só muitos anos depois viria a conhecer e a saber o que significava … No meio da paz nocturna, entre os ramos altos da árvore, uma estrela aparecia-me, e depois, lentamente, escondia-se por trás de uma folha, e, olhando eu noutra direcção, tal como um rio correndo em silêncio pelo céu côncavo, surgia a claridade opalescente da Via Láctea, o Caminho de Santiago, como ainda lhe chamávamos na aldeia. Enquanto o sono não chegava, a noite povoava-se com as histórias e os casos que o meu avô ia contando: lendas, aparições, assombros, episódios singulares, mortes antigas, zaragatas de pau e pedra, palavras de antepassados, um incansável rumor de memórias que me mantinha desperto, ao mesmo tempo que suavemente me acalentava. Nunca pude saber se ele se calava quando se apercebia de que eu tinha adormecido, ou se continuava a falar para não deixar em meio a resposta à pergunta que invariavelmente lhe fazia nas pausas mais demoradas que ele calculadamente metia no relato: “E depois?” Talvez repetisse as histórias para si próprio, quer fosse para não as esquecer, quer fosse para as enriquecer com peripécias novas. Naquela idade minha e naquele tempo de nós todos, nem será preciso dizer que eu imaginava que o meu avô Jerónimo era senhor de toda a ciência do mundo. Quando, à primeira luz da manhã, o canto dos pássaros me despertava, ele já não estava ali, tinha saído para o campo com os seus animais, deixando-me a dormir. Então levantava-me, dobrava a manta e, descalço (na aldeia andei sempre descalço até aos 14 anos), ainda com palhas agarradas ao cabelo, passava da parte cultivada do quintal para a outra onde se encontravam as pocilgas, ao lado da casa. Minha avó, já a pé antes do meu avô, punha-me na frente uma grande tijela de café com pedaços de pão e perguntava-me se tinha dormido bem. Se eu lhe contava algum mau sonho nascido das histórias do avô, ela sempre me tranquilizava : “Não faças caso, em sonhos não há firmeza”. Pensava então que a minha avó, embora fosse também uma mulher muito sábia, não alcançava as alturas do meu avô, esse que, deitado debaixo da figueira, tendo ao lado o neto José, era capaz de pôr o universo em movimento apenas com duas palavras. Foi só muitos anos depois, quanto o meu avô já se tinha ido deste mundo e eu era um homem feito, que vim a compreender que a avó, afinal, também acreditava em sonhos. Outra coisa não podería significar que, estando ela sentada, uma noite, à porta da sua pobre casa, onde então vivia sozinha, a olhar as estrelas maiores e menores por cima da sua cabeça, tivesse dito estas palavras: “O mundo é tão bonito, e eu tenho tanta pena de morrer”. Não disse medo de morrer, disse pena de morrer, como se a vida de pesado e contínuo trabalho que tinha sido a sua estivesse, naquele momento quase final, a receber a graça de uma suprema e derradeira despedida, a consolaçao da beleza revelada. Estava sentada à porta de uma casa como não creio que tenha havido alguma outra no mundo porque nela viveu gente capaz de dormir com porcos como se fossem os seus próprios filhos, gente que tinha pena de ir-se da vida só porque o mundo era bonito, gente, e este foi o meu avô Jerónimo, pastor e contador de histórias, que, ao pressentir que a morte o vinha buscar, foi despedir-se das árvores do seu quintal, uma por uma, abraçando-se a elas e chorando porque sabia que não as tornaria a ver.»

OLHAR AS CAPAS


O Neto do Homem Mais Sábio

Tomás Guerrero

Prefácio de Valer Hugo Mãe

Tradução: Jorge Pereirinha Pires

Porto Editora, Lisboa, Novembro de 2025

O homem mais sábio que conheci em toda a minha vida não sabia ler nem escrever.

AS OUTRAS CANÇÕES DE NATAL


O prazer do Inverno reside no lume.

Já não lembra onde leu a frase, mas guardou-a bem. Porque ela lhe traz o gosto que tem por lareiras e, como tantas outras coisas, não sabe explicar o encantamento de ficar a olhar o lume, a cumplicidade silenciosa, melancolias incuráveis, como lhe dizia o Mário-Henrique Leiria que também gostava do Natal.

E este tempo de Natal, que vai olhando os seus últimos dias, traz-lhe sempre a ideia de frio, de lareiras. Sempre que se senta frente a uma lareira, ocorre-lhe o título de um livro, póstumo, do Manuel da Fonseca, À Lareira, Nos Fundos da Casa Onde O Retorta Tem o Café, pela cadência que transmite, a lentidão das conversas em redor do lúmi ou o suave silêncio que, por vezes, é bem melhor que as faladuras.

Não tem lareira mas gostava de ter. Não tem terra, nasceu em Lisboa, e procura na terra dos amigos esse cheiro antigo. Tornou-se um peregrino das lareiras dos amigos, tira-lhes fotografias.

 E dá-lhe para ouvir uma velha canção do Zeca Baleiro que ele encaixa nas Outras Canções de Natal.

 Faltam escassas horas para que estejamos num novo ano.

 Lembranças do Helder Pinho, anos 60 e picos, que vivia na Rua da Manutenção junto ao Tejo que passa por Xabregas, a telefonar-lhe aos gritos: «Eh pá! estou a ouvir a ronca dos barcos no Tejo, bom ano, camarada» e ele a lembrar-se que o Helder citava Baptista-Bastos na Cidade Diária, livro que ele  quase sabia de cor, também lembranças de José Saramago numa noite de fim de ano de 1994, «a noite de Lanzarote é cálida, tranquila. Ninguém mais no mundo quer esta paz?»

Sim, a vida, esta vida que, inapelavelmente, pétala a pétala, vai desfolhando o tempo.

REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL



 Último Poema 

 

É Natal, nunca estive tão só.

Nem sequer neva como nos versos

do Pessoa ou nos bosques

da Nova Inglaterra.

Deixo os olhos correr

entre o fulgor dos cravos

e os diospiros ardendo na sombra.

Quem tem assim o verão

dentro de casa

não devia queixar-se de estar só,

não devia.

Eugénio de Andrade

domingo, 21 de dezembro de 2025

MÚSICA PELA MANHÃ

Hoje, mais um clássico das Canções de Natal: The Christmas Song na interpretação de Mel Tormé.

Colaboração de Aida Santos

LIVROS AUTOGRAFADOS


Há algum tempo referi por aqui, um bom número de livros, comprados em alfarrabistas, em que encontro que alguns desses livros pertenceram a escritores, e outras gentes, a quem os autores  os ofereceram.

Os livros ou foram roubados, emprestados e nunca devolvidos, ou, simplesmente, os herdeiros, após ao morte dos proprietários, venderam-nos ao desbarato.

Amiúde encontramos nas listagens, colocadas pelos alfarrabistas na internet, a seguinte indicação:

«exemplar em bom estado de conservação; miolo irrepreensível, valorizado pela dedicatória manuscrita do autor ao…»

E aqui o preço do livro sobe bem.
Começo esta viagem de livros autografados, que se encontram na Biblioteca da Casa, com Ruy Belo.

Livro comprado numa loja-vão-de-escada-em-que encontramos-de-tudo-um pouco.

O livro é nem mais a 1º edição de Aquele Grande Rio Eufrate publicado em Abril de 1961 pela Ática Editora.

 

«A Tomaz Kim, com a amizade e a consideração do Ruy Belo

Alguma poesia que pode haver em Aquele Grande Rio Eufrates

Lisboa 19/VII/62.»

 

O velhote, certamente, não sabia o que estava a vender, muito menos, quem seria Ruy Belo.

Na capa do livro, o velhote colocou o preço: 10 escudos, ao câmbio de hoje, 5 euros.

 

Sobre Tomaz Kim, copiamos da Infopédia:

 

«Poeta, tradutor e ensaísta literário angolano, de nome completo Joaquim Fernandes Tomaz Monteiro-Grillo, nascido a 2 de fevereiro de 1915, em Lobito, e falecido a 24 de janeiro de 1967, em Lisboa.
Fez os estudos primários em Cape Town e o ensino secundário em Lisboa. Estudou Engenharia em Londres, mas, regressado a Portugal, licenciou-se em Filologia Germânica pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi leitor de Inglês e professor de Literatura Inglesa. Especializou-se depois nessa área em diferentes universidades do Mundo, tendo recebido formação de pós-graduação em Oxford, Heidelberg, Bona e Göttingen.
Com Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal, fundou e dirigiu, na sua primeira fase, Cadernos de Poesia, publicação eclética, editada em Lisboa, em 1940, e que, sob o emblema "Poesia é só uma", apresentava como objetivo "arquivar a atividade da poesia atual sem dependência de escolas ou grupos literários, estéticas ou doutrinas, fórmulas ou programas". Colaborou também em diferentes periódicos como Atlântico, Aventura, Presença e Graal.
A sua poesia, juntamente com a de Ruy Cinatti, inaugura um lirismo "depurado e um pouco hermético", no dizer de Jorge de Sena, mas é uma poesia "elíptica e oblíqua, dada todavia numa expressão muito direta".
Escritos e editados no decurso da Segunda Guerra Mundial, os seus primeiros volumes de poesia relevam de um compromisso com a História que não se traduz em termos de empenhamento social, mas da articulação entre a exigência ética e uma escrita condicionada pelo perigo apocalíptico que o conflito mundial traduzia. A tradução de poetas ingleses, nomeadamente T. S. Elliot, e a convivência com a cultura e língua inglesas justificam a sintaxe elíptica que caracteriza a sua escrita.
Destacam-se na sua obra: Em Cada Dia Se Morre, Os Quatro Cavaleiros, Dia da Promissão e Exercícios Temporais.»

 

Um poema de Tomas Kim tirado da Internet:

 

Quando a morte vier, meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e às nossas mãos a carícia dispersa;
relembremos o dia impossível,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos então, naturalmente...

sábado, 20 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


O humano é o que temos de preservar em todas as circunstâncias: o capitalismo já sabemos que não o fará.

José Saramago

OLHAR AS CAPAS


 O Passado Remoto

Giovanni Papini

Tradução: Armandina Puga

Colecção: Livros RTP nº 27

Editorial Verbo, Lisboa s/d

Nunca vi Paris tão jubilosamente inundada de sol e de inteligência como na Primavera de 1914. Parecia que a velha Europa, antes de se envolver no manto de fogo e de luto, quisera oferecer a si própria uma última course aux flambeaux, num dos seus mais famosos boulevards.

O tempo estava quase sempre bonito, o céu tinha a amenidade perlada do mais cordial setentrião, a gente parecia contente de viver, e de viver precisamente naquela germinante estação. Nas árvores, que se erguiam entre as fortalezas burguesas dos grandes palácios negros, despontavam as primeiras folhas, a despeito do ar que cheirava a gasolina e a asfalto ainda húmido.

Por toda a parte reinava uma vida alacridade, uma temeridade de experiências, uma vontade de tentar e ir mais além que dava alma e coragem aos mais ensonados, esperanças e embriaguez  aos mais arrojados aventureiros. Por toda a parte se falava em teorias novas, nasciam novas revistas, abriam-se novas exposições, novos poetas e pintores se revelavam. Parecia o festim de Alexandre, antes do incêndio da Babilónia.

Fora até lá com Soffici e Carrà. Também Marinetti e Palazzeschi vieram por uns dias. Mais do que nunca Paris era a Alexandria da cultura moderna, onde convergiam homens vindos de toda a Europa. Os pintores mais famosos chamavam-se Picasso e Juan Gris, Modigliani e Van Dongen; os escultores mais célebres, Rosso e Archipenko; e também os escritores acorriam de toda a Europa.

MÚSICA PELA MANHÃ


Mesmo que os tempos não sejam os melhores, é isto que desejamos aos amigos: Feliz Natal e um Bom Ano Novo.

Colaboração de Aida Santos

PAÍS DE POETAS E MARINHEIROS QUE, DIZEM, QUE SOMOS!...


Texto de Nuno Pacheco no Público:

«Segundo tema de um álbum anunciado para 23 de Janeiro de 2026, estreia-se esta sexta-feira em single e videoclipe Canção de Marinheiro, com poema de Sebastião da Gama. Antes, em Maio, Marco Oliveira e José Peixoto tinham-nos dado a ouvir Fundo do mar, canção composta a partir de um poema de Sophia de Mello Breyner Andresen. O álbum, que além destas canções, incluirá outras com poemas de Eugénio de Andrade, Miguel Torga, Alda Lara, Paio Soares de Taveirós ou Francisco Rodrigues Lobo, chama-se Caminho é Quanto Fica da Viagem, frase retirada de uma canção inédita de José Mário Branco (1942-2019, produtor do anterior álbum de Marco Oliveira, Ruas e Memórias, lançado em 2021), que também fará parte do disco, Fado das nuvens.

A história do novo álbum de Marco Oliveira, desta vez em parceria com José Peixoto (álbum “centrado na poesia marítima e nas vidas de marinheiros” e “inteiramente dedicado aos grandes poetas portugueses”), é, diz-se no texto que acompanha o lançamento de Canção de Marinheiro, “inspirada na vida de António dos Santos (1919-1993) marinheiro e fadista que viajou longos anos no mar e que personifica as histórias de marinheiros presentes nas canções”.

Com voz, guitarra, realização e edição de vídeo e produção executiva de Marco Oliveira, e guitarra clássica, arranjos e produção musical de José Peixoto, Canção de Marinheiro começa assim: “Deixei no mar meu cachimbo, minhas camisas de cor.../ os meus livros preferidos/ e aquele beijo de amor/ que tu me deste à partida”; e assim termina: “Só não deixei minha boca, para que falasse do Mar.../ Só não deixei os meus olhos,/ para todos que nos virem/ saberem que andei no Mar.”»

sexta-feira, 19 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO


 Encostei-me à janela, olhando a noite. Quanto mais a vida parece nossa, e é mesmo a nossa, mais pessoas se misturam nela. E, quanto mais pessoas se misturam nela, mais temos que dizer sem ter a quem. Porque é impossível falar dela aos outros, sem mostrar a que ponto há ainda outros que estão envolvidos, às vezes sem sequer saberem que o estão.

Jorge de Sena em Sinais de Fogo.

MIUDEZAS DE NATAL

Colaboração de Aida Santos.

CONVERSANDO


Teve dezenas de gatos, um de cada vez, sabe o espaço que ocupam.

Cresceu rodeado por gatos, apanhava-os na rua e levava-os para casa, mas, hoje, questiona-se sobre ter gatos em casa: pela higiene, pelos cheiros, pelas alergias que provocam. A irmã tem três gatos, que se passeiam por cima das mesas, por cima das tartes de limão. Quando olhou a cena, as tartes de limão da irmã deixaram de o entusiasmar.

Uma querida amiga que vive no Porto, dorme com os gatos, passeia a sua solidão pelos corredores da casa. Quando lhe telefona, diz que os filhos continuam longe, os gatos não compensam essa falta, mas ajudam-na a calar a dor até não sentir nada.

Aprende-se com os gatos o sabor da solidão?

Não o saberá.

Lembra-se de um livro de Adrien Goetz:

«Ela apelava à atenção, ao silêncio, à minúcia, à preguiça, ao escrúpulo, devolvia-me a vontade de agradar, e de dar vida às coisas, só para mim, neste atelier que me servia de abrigo. Tratava-me por tu. Quando lhe dizia: "E, quando voltar para França, como conseguirei viver sem poder acariciar assim a tua nuca", ela respondia-me maliciosamente: "Podes comprar um gato".»


Legenda: fotografia de Luís Eme

NOTÍCIAS DO CIRCO

Luís Montenegro não tem condições para ser primeiro-ministro.

Devia, de imediato, abandonar a vida pública e dedicar-se, exclusivamente, a gerir o património familiar.

Temos azar com os primeiros ministros do reino que nos vão acontecendo.

«Se o arquivar do caso Spinumviva foi uma prenda de Natal, Luís Montenegro foi daqueles presenteados que só vêem defeitos no que lhes é dado. Numa declaração a partir de Bruxelas (sem direito a perguntas, como já é habitual), o primeiro-ministro mostrou satisfação pelo dissipar da nuvem negra que o perseguia, mas aproveitou o momento para se fazer ainda mais vítima, atacando a imprensa e a justiça.

Está para perceber no que errou a imprensa ao ter retirado da sombra o que tinha de ser trazido para a luz. Alguém que ocupa um dos cargos de maior responsabilidade do país tem a obrigação de saber que com o lugar vem o natural escrutínio por parte da imprensa. Que tudo tenha começado por uns terrenos sem préstimo, herança de família, e tenha acabado na avença de um grupo com casinos, que durante o mandato deste executivo tem a sua concessão a concurso, foi certamente mais trabalho da imprensa do que vontade de transparência do primeiro-ministro. Foi mesmo a imprensa que esteve bem.»

David Pontes no Público

«Nesta quinta-feira, Pedro Nuno Santos recorreu às redes sociais para voltar a explicar a sua posição. Escreveu que "independentemente da existência ou da ausência de responsabilidade judicial, do ponto de vista político o que sabemos é suficiente para se concluir que Luís Montenegro não tem condições de idoneidade para o cargo que ocupa. Não foi esse o juízo popular, mas isso não mudou a minha avaliação do carácter e da idoneidade do primeiro-ministro.»

Pedro Nuno Santos citado por Ana Sá Lopes

MÚSICA PELA MANHÃ


 Hoje, dançamos a valsa com o imortal Frank Sinatra.

REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL


QUANDO VIERES

 

Quando vieres

Encontrarás tudo como quando partiste.

A mãe bordará a um canto da sala...

Apenas os cabelos mais brancos

E o olhar mais cansado.

O pai fumará o cigarro depois do jantar

E lerá o jornal.

Quando vieres

Só não encontrarás aquela menina de saias curtas

E cabelos entrançados

Que deixaste um dia.

Mas os meus filhos brincarão nos teus joelhos

Como se te tivessem sempre conhecido.

Quando vieres

nenhum de nós dirá nada

mas a mãe largará o bordado

o pai largará o jornal

as crianças os brinquedos

e abriremos para ti os nossos corações.

Pois quando tu vieres

Não és só tu que vens

É todo um mundo novo que despontará lá fora

Quando vieres.

 

Maria Eugénia Cunhal em Silêncio de Vidro

 

Legenda: Ilustração de Rogério Ribeiro para o livro de Manuel Tiago  Até Amanhã, Camaradas

quinta-feira, 18 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Não é preciso um meteorologista para saber para que lado sopra o vento.

Bob Dylan

OLHAR AS CAPAS

Contos

Eça de Queiroz

Fixação do texto e Notas de Helena Cidade Moura

Capa: Lima de Freitas

Livros do Brasil, Lisboa s/d

A criança, com duas longas lágrimas na face magrinha, murmurou:

- Oh mãe! Jesus ama todos os pequeninos. E eu ainda tão pequeno, e com um mal tão pesado, e que tanto queria sarar!

E a mãe, em soluços:

- Oh meu filho como te posso deixar! Longas são as estradas da Galileia, e curta a piedade dos homens.

Tão rota, tão trôpega, tão triste, até os cães me ladrariam da porta dos casais. Ninguém atenderia o meu recado, e me apontaria a morada do doce rabi.

Oh filho!

Talvez Jesus morresse... Nem mesmo os ricos e os fortes o encontram. O Céu o trouxe, o Céu o levou. E com ele para sempre morreu a esperança dos tristes.

De entre os negros trapos, erguendo as suas pobres mãozinhas que tremiam, a criança murmurou:

- Mãe, eu queria ver Jesus...

E logo, abrindo devagar a porta e sorrindo, Jesus disse à criança:

- Aqui estou.

NOTÍCIAS DO CIRCO

É deveras lamentável o discurso que, ontem, na abertura dos telejornais, Luís Montenegro, com as bandeiras de Portugal e da Comissão Europeia por detrás, proferiu desde Bruxelas.

Não satisfeito com a prenda de Natal que o Procurador-Geral da República desatou a acusar a Procuradoria da República, os jornalistas pelos malefícios que o caso da empresa de família lhe veio a causar.

É um discurso de ódio, uma saloiada que não fica bem, de modo algum, a um primeiro-ministro de um país que se quer europeu.

Legenda: imagem do Público.

MÚSICA PELA MANHÃ


A Canção de Natal de hoje é bem conhecida. Foi popularizada por José Feliciano.

Colaboração de Aida Santos


REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL


 

Natal


Neste caminho cortado

Entre pureza e pecado

Que chamo vida,

Nesta vertigem de altura

Que me absorve e depura

De tanta queda caída,

É que Tu nasces ainda

Como nasceste

Do ventre da Tua mãe.

Bendita a Tua candura.

Bendita a minha também.

 

Mas se me perco e Te perco,

Quando me afogo no esterco

Do meu destino cumprido,

À hora em que Te rejeito

E sangra e dói no Teu peito

A chaga de eu ter esquecido,

É que Tu jazes por mim

Como jazeste

No colo da Tua mãe.

Bendita a Tua amargura

Bendita a minha também.

 

Reinaldo Ferreira em Natal…Natais

Legenda: pintura de Heidi Malott

quarta-feira, 17 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Devemos aceitar a nossa existência tão completamente quanto possível. Tudo, mesmo o inconcebível, deve tornar-se possível. No fundo, a única coragem que nos é pedida é a de fazermos face ao estranho, ao maravilhoso, ao extraordinário que se nos deparar. Custou muito caro à vida que os homens, neste ponto, tivessem sido fracos.

Rainer Maria Rilke

NOTÍCIAS DO CIRCO

O Luís já pode trabalhar em paz.

O procurador-Geral da República deu-lhe a prometida prenda de Natal: as averiguações a Montenegro sobre a empresa familiar Spinumviva, foram arquivadas.

António Filipe, candidato a presidente apoiado pelo PCP, disse que terá de se aceitar a conclusão da justiça, mas continua a defender que a censura política, pela qual Montenegro se deveria ter demitido, continua com pormenores não justificados pelo primeiro-ministro.

Olharemos as cenas dos próximos capítulos.

A canção de hoje é Winter Wonderland.

Existem muitas versões. Escolhi a de Peggy Lee porque o Freitas gostava muito da Peggy Lee.

Colaboração de Aida Santos

REVISITAÇÃO DE POEMAS DE NATAL



Natal – 1950


Nenhum Natal será possível: sei

que tudo enfim suspenso aguarda

não já Natais sempre de guerra mas

a morte iluminada como aurora

entre esta gente que se junta rindo

e as luzes interiores, muitas cabeças juntas;

entre as lágrimas de ternura e os murmúrios de esperança,

entre as vozes e os silêncios, as pedras e as árvores,

entre muralhas de janelas sob a chuva,

entre agonias dos que lutam porque são mandados

e a cobarde angústia dos que apenas mandam,

no meio da vida, círculo de fogo,

à luz de que se vê uma calçada suja

de restos de comida e de papéis rasgados

– se sei, embora saiba, quanto soube:

ah canto do meu canto, olhar do meu olhar,

nenhum Natal, bem sei, mas outra gente,

e tanta gente, e mesmo que um só fosse,

já louco, envelhecido, apenas hábito,

que poderei fazer, senão humildemente cantar?

 

Jorge de Sena em Natal… Natais

 

terça-feira, 16 de dezembro de 2025

POSTAIS SEM SELO

Era uma vez um fanático do passado que sonhou um país, depois o sonho morreu e foi ver filmes.
Ser fanático do passado é uma opção da qual não posso abrir mão. Ser fanático do passado é ser fanático daquilo que nos construiu. Não para um regresso ao passado, não por uma nostalgia que se fecha sobre si própria, mas por ser um processo de construção.


Manuel S. Fonseca

NOTÍCIAS DO CIRCO

 Afinal a Greve Geral serviu para alguma coisa.

Na reunião de hoje, a UGT saiu optimista do encontro e garante que Rosário Ramalho mostrou “total disponibilidade para a negociação”.

Passadas duas horas, a ministra do trabalho garantiu que o governo está disponível para “aproximar as posições” e que espera receber propostas “mais concretas” dos parceiros sociais antes da reunião da Comissão Permanente de Concertação Social, marcada para 14 de Janeiro.


O líder da UGT saiu optimista da reunião, que considerou “muito produtiva” e “trouxe para a mesa novamente a confiança que é preciso” para continuarem a negociar o pacote laboral do Governo.

«Estou optimista face aquilo que ouvi da parte do Governo: total disponibilidade para a negociação. Temos, neste momento, a garantia de total disponibilidade para o Governo ouvir as posições».

No dia 7 de Janeiro de 2026, o primeiro ministro recebe a CGTP.

Seria bom que Luís Montenegro, mais as suas aves amestradas-propagandisticas, pensassem que um governo deve existir para pensar nas pessoas e nunca contra as pessoas. 

OLHAR AS CAPAS


Um Crime Monstruoso

Jean-Paul Sartre

Tradução: Carlo T. Simões

Edições Dorell, São Paulo, 1968

Afinal que crime monstruoso cometeu? De que pode acusá-lo o governo boliviano? Escreveu um livro sobre a revolução. É claro que este livro não nasceu sozinho: resume nele as experiências da sua longa viagem pela América Latina; afirma a sua solidariedade com a experiência cubana; mas, principalmente, infere o que chama de “as consequências da lição para o futuro”. Veremos que é exatamente por isto que está preso atualmente e talvez esteja sendo torturado.

OS ITINERÁRIOS DO EDUARDO

Todos os itinerários que o Eduardo fez, tinham em vista coisas simples, mas muito importantes: os amigos, «as amigas e os amigos do Grupo Jantarista do Cais do Sodré», o pão quente de madrugada, uma cerveja clara, os livros, todas as coisas, que eu digo simples e que fizeram a história da vida do Eduardo.

 

Livro

 

Percorro livre o livro.

Não tenho cartilha. Bebo as letras.

Risco o livro. Leio em voz alta.

Liberto-me do livro e livre

atravesso as ruas. Mas ao livro

regresso e nele me deito.

A ternura das páginas íntimas.

O esboço de outro livro. Nos livros

soletro o que nele não está.

MÚSICA PELA MANHÃ


 Gosto de Canções de Natal.

Umas mais que outras.

Mas gosto imenso desta: Uma criança nasceu.

Porque fala da alegria e a emoção que acompanham o nascimento de uma criança.

No fundo a esperança que uma criança, quando nasce, sempre traz.

Colaboração de Aida Santos.

TRUMPALHADAS


Donald Trump é um tipo que, em tudo o que diz e mexe,  não deixa de, abominavelmente, surpreender, um perfeito desastre.

Perante a morte de Rob Reiner, descreveu-o  como alguém “talentoso, mas atormentado e em dificuldades”, atribuindo a sua morte ao que descreveu como “a raiva que provocou nos outros”, alegadamente causada por uma “aflição grave, inflexível e incurável”, a que chamou "Trump Derangement Syndrome" ("Síndrome de Transtorno de Trump").

"Era conhecido por levar as pessoas à loucura devido à sua obsessão intensa pelo Presidente Donald J. Trump, com uma paranoia evidente que atingia novos patamares à medida que a Administração Trump superava todas as metas e expectativas de grandeza, e com a chamada "Era de Ouro da América" sobre nós, talvez como nunca antes."

As declarações, feitas em tom crítico, geraram polémica nas redes sociais e em ambos os lados do espectro político norte-americano. No próprio Partido Republicano, algumas figuras criticaram os comentários de Donald Trump.

Entre elas, a republicana do estado da Geórgia Marjorie Taylor Greene afirmou na rede X que “isto é uma tragédia familiar, não sobre política ou inimigos políticos” e acrescentou que deveria ser “recebido com empatia”. O republicano do Kentucky Thomas Massie, crítico frequente de Donald Trump, considerou que a publicação do Presidente norte-americano foi “inadequada e desrespeitosa”.