Há algum tempo referi por aqui, um bom número de livros, comprados em alfarrabistas, em que encontro que alguns desses livros pertenceram a escritores, e outras gentes, a quem os autores os ofereceram.
Os
livros ou foram roubados, emprestados e nunca devolvidos, ou, simplesmente, os
herdeiros, após ao morte dos proprietários, venderam-nos ao desbarato.
Amiúde
encontramos nas listagens, colocadas pelos alfarrabistas na internet, a
seguinte indicação:
«exemplar em bom estado
de conservação; miolo irrepreensível, valorizado pela dedicatória manuscrita do
autor ao…»
E
aqui o preço do livro sobe bem.
Começo esta viagem de livros autografados, que se encontram na Biblioteca da
Casa, com Ruy Belo.
Livro
comprado numa loja-vão-de-escada-em-que encontramos-de-tudo-um pouco.
O
livro é nem mais a 1º edição de Aquele Grande Rio Eufrate publicado em Abril de
1961 pela Ática Editora.
«A
Tomaz Kim, com a amizade e a consideração do Ruy Belo
Alguma
poesia que pode haver em Aquele Grande Rio Eufrates
Lisboa
19/VII/62.»
O
velhote, certamente, não sabia o que estava a vender, muito menos, quem seria
Ruy Belo.
Na
capa do livro, o velhote colocou o preço: 10 escudos, ao câmbio de hoje, 5
euros.
Sobre
Tomaz Kim, copiamos da Infopédia:
«Poeta,
tradutor e ensaísta literário angolano, de nome completo Joaquim Fernandes
Tomaz Monteiro-Grillo, nascido a 2 de fevereiro de 1915, em Lobito, e
falecido a 24 de janeiro de 1967, em Lisboa.
Fez os estudos primários em Cape Town e o ensino secundário em Lisboa.
Estudou Engenharia em Londres, mas, regressado a Portugal, licenciou-se em
Filologia Germânica pela Faculdade de Letras de Lisboa, onde foi leitor de
Inglês e professor de Literatura Inglesa. Especializou-se depois nessa área em
diferentes universidades do Mundo, tendo recebido formação de pós-graduação
em Oxford, Heidelberg, Bona e Göttingen.
Com Ruy Cinatti e José Blanc de Portugal, fundou e dirigiu, na sua
primeira fase, Cadernos de Poesia, publicação eclética, editada
em Lisboa, em 1940, e que, sob o emblema "Poesia é só uma",
apresentava como objetivo "arquivar a atividade da poesia atual sem
dependência de escolas ou grupos literários, estéticas ou doutrinas, fórmulas
ou programas". Colaborou também em diferentes periódicos como Atlântico, Aventura, Presença e Graal.
A sua poesia, juntamente com a de Ruy Cinatti, inaugura um lirismo
"depurado e um pouco hermético", no dizer de Jorge de Sena, mas
é uma poesia "elíptica e oblíqua, dada todavia numa expressão muito
direta".
Escritos e editados no decurso da Segunda Guerra Mundial, os seus
primeiros volumes de poesia relevam de um compromisso com a História que
não se traduz em termos de empenhamento social, mas da articulação entre a
exigência ética e uma escrita condicionada pelo perigo apocalíptico que o
conflito mundial traduzia. A tradução de poetas ingleses, nomeadamente T. S.
Elliot, e a convivência com a cultura e língua inglesas justificam a sintaxe
elíptica que caracteriza a sua escrita.
Destacam-se na sua obra: Em Cada Dia Se Morre, Os Quatro
Cavaleiros, Dia da Promissão e Exercícios
Temporais.»
Um
poema de Tomas Kim tirado da Internet:
Quando a morte vier,
meu amor,
fechemos os olhos para a olhar por dentro
e deixemos aos nossos lábios o murmúrio
da palavra branda jamais pronunciada
e às nossas mãos a carícia dispersa;
relembremos o dia impossível,
belo por isso e por isso desprezado,
e esqueçamos o que nos não deixaram ver
e o resto que sobrou do nada que possuímos;
deixemos à poesia que surge
o pranto de quem a trocou para comer
e os passos sem rumo pelas ruas hostis;
deixemos à carne o que não alcançámos,
e morramos então, naturalmente...
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