segunda-feira, 29 de dezembro de 2025

PÓLO OPOSTO

Surda languidez ao pé das palmeiras


Hoje seria Natal exactamente Natal

A ramagem e o fruto graxo sobre o galho

verdejam

exércitos de insectos zunem em círculos eternos

 

Surda languidez ao pé das palmeiras

o leque de sombras da floresta

assusta a ave-do-paraíso

 

Penso na pátria e pensativo fito o chão

se a terra fosse transparente

daqui poderia enxergar debaixo de todas as saias da Europa

 

Pés brilham e deslizam entre babados

como as dançarinas

de Paris em passos rápidos sobre folhas de espelho

 

Penso em seus ombros nos ombros apenas

nos olhos nos lábios nos cabelos

e nos seios principalmente nos seios

 

Quantas amei quantas belas e brancas

chuva de rosas dos meus pés à cabeça

Uma única mulher negra me pertenceu


Surda languidez ao pé das palmeiras

Caminho aqui de cabeça para baixo

como se andasse sobre o tecto


Abaixo de mim profundeza brilha a voragem celeste

caminho feito Cristo vergado debaixo do Cruzeiro do Sul


Do outro lado do mundo os homens

correm correm ao avesso

Só fico pensando em seus sapatos de sola furada


Seus pequenos passos de criança

em jardins furta-cor

lançam folhagem sangrenta para baixo


A terra dos checos estende-se na outra parte do mundo

terra exótica e estranha

com rios profundos e fabulosos

pode-se atravessá-los de pés secos no dia onomástico de Jesus

temos outono inverno verão e primavera


As pessoas usam sobretudo gravatas

e bengalas

talvez esteja nevando agora

talvez a cerejeira esteja em flor


Amoras abundantes estão crescendo

E há água potável fresca

 

Konstantin Biebl em Rosa do Mundo

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