Se
ainda andasse por aqui, a bebericar litradas de Whisky Johnny Walker, rótulo
preto, a unicar três maços de tabaco negro por dia, o meu pai faria 113 anos.
Era miúdo, teria uns 8 anos, lembro-me de ele ter chegado a casa com um disco de 78rpm do trompetista Eddie Calvert a tocar uma velha canção «Oh, My Papa».
Ele adorava esta canção e quando fazia anos, gostava de a por a tocar.
O disco partiu-se e, alguns anos antes de nos deixar, consegui
encontrar na Feira da Ladra, um EP do Eddie Calvert. O disco terá pertencido a
alguém chamado Ilda, que lhe terá sido oferecido em 21 de Fevereiro de 1964,
mas as coisas não terão corrido bem, riscou a dedicatória e, por tuta e meia, vendeu
o disco.
O meu pai, o melhor ouvinte e conversador que tive, e lembro as noites de Verão-de-micro-clima, em Almoçageme, numa velha casa alugada, sentados no alpendre a ouvir o silêncio, ao longe a ronca do Cabo da Roca, ele a beber o seu whisky, eu a beber o meu gin-tonic.

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