domingo, 25 de outubro de 2015

V.S.T. & ETC


Falar da excelência das edições dos livros da &etc. é apenas um falar.

È necessários ter os livros entre mãos para se ter a noção exacta dessa excelência.

Como escreveu Júlio Henriques em  Uma Editora no Subterrâneo:

Papéis pintados com tinta ou parte não dita da poesia? Em qualquer caso. Nada que se confunda com indizíveis ou inefáveis transcendências. Poucas coisas serão tão tangíveis como estes livros. Retirei-os das estantes, espalhei-os sobre a mesa e estou a folheá-los Há horas, quase esqueço o propósito da escrita. Pouco importa. Nunca os procurei por via escolar, nunca os encontrei em bibliografias obrigatórias. Se tiver que escrever sobre eles, escreverei sem sombra de dever. É o mínimo que lhes devo.

Em resumo: um homem que ama verdadeiramente os livros nunca pensa em cifrões.

Era assim Vitor Silva Tavares.

Um homem radicalmente livre.

A imagem é o «hors-texte» concebido por Carlos Ferreiro para o livro de Eduardo GuerraCarneiro.

É bem provável que existam outros, mas apenas conheço dois prefácios de Vitor Silva Tavares para livros por si editados.

Um, para o livro de João César Monteiro, Os Que Vão Morrer Saúdam-te e a que o Vitor chamou «O César Tem Uma Grande Telha», outro para o livro do Eduardo Guerra Carneiro «Como Não Quer a Coisa», e a que chamou «Noves Fora, Sete»

É do prefácio do livro do Eduardo este pedacinho:

Memórias, sonhos, encontros, desencontros. As marcas incisivas do prazer - e do conhecimento da dor. O rio subterrâneo do furor poético a desaguar no mar de palha deste país à beira-mercado comum plantado. Tralhas, mapas, casas, bichos. A flagelação irónica de um lusíada coitado (é fado nosso) desconfortado no fato cívico - e o ímpeto de bomba agarrado pelo rabo. Sexo q.b. e baba ternurenta. Cervejas agoniadas. Noites de bláblá. A máquina por vezes engripada de reinvenção do dia claro (igual à noite antiquíssima) numa lisboa cesárica, nuns bons e maus cheiros de província havida. Dúvidas, fragmentos, resíduos, desarticulações. Quem é este do cântico jugulado? Quem, na essencial totalidade? Quem, na irada moderação? Quem, no nem por isso invocado direito ao erro próprio tão idêntico a sabedoria? Orfeu ensaia o canto, envolto em treva e algazarra. «Trata-se pois de uma prática de amor». E morte.

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