sábado, 13 de agosto de 2016

OLHAR AS CAPAS


A História Me Absolverá

Fidel de Castro
Tradução e introdução: Carlos Grifo
Capa: J.C.
Colecção Perspectivas nº 25

Chego agora ao final da minha defesa mas não a acabarei, como os advogados geralmente fazem, pedindo que os acusados sejam libertos. Não posso pedir liberdade para mim enquanto os meus camaradas sofrem na ignominiosa da Ilha dos Pinheiros. Enviai-me para lá, para que me junte a eles e partilhe do seu destino. É compreensível que os homens honestos sejam mortos ou presos numa República em que o Presidente é um criminoso e um ladrão.
Para vós, Meretíssimos Juízes, a minha sincera gratidão por me haverdes permitido exprimir-me, livre de desprezíveis destrições. Não guardo amargura contra vós e reconheço que, em certos aspectos, tendes sido humanos. Sei que o Presidente deste Tribunal. Homem de uma impecável visa privada, não consegue disfarçar a sua repugnância perante o corrente estado de coisas que o obriga a tomar decisões injustas.
Mas um problema mais sério está ainda para resolver nesta sessão: as decisões a tomar quanto ao assassinato de setenta homens, ou seja, quanto ao maior massacre que jamais conhecemos. Os culpados continuam em liberdade e de armas na mão – armas que contìnuamente ameaçam os cidadãos. Se todo o peso da lei não cai sobre os culpados, por causa da cobardia ou do domínio sobre os tribunais, e se, em tal caso, todos os magistrados e juízes se não demitirem, causais-me pena. E lamento a vergonha sem precedentes que recairá sobre o poder jurídico.
Sei que estar na prisão será, para mim, tão duro como alguma vez o foi para alguém, rodeado de ameaças cobardes e perversas torturas. Porém, não temo a prisão, tal como não temo a fúria do miserável tirano que roubou as vidas a setenta dos meus camaradas.
Condenai-me. Isso não importa. A História me absolverá.


Nota do editor: A História Me Absolverá é o texto da alegação dirigida por Fidel de Castro ao Tribunal que o julgou, à porta fechada, após o insucesso da sua primeira insurreição, em 26 de Julho de 1953, contra o regime de Batista.

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