segunda-feira, 25 de novembro de 2019

OLHAR AS CAPAS


Herzog

Saul Bellow
Tradução: Luísa Ducla Soares
Capa: Luís Filipe de Abreu
Colrcção Latitude nº 62

Posso não estar bom da cabeça, mas tudo me parece claro, pensou Moisés Herzog.
Algumas pessoas julgavam-no louco, e durante um certo tempo ele próprio duvidou da sua integridade. Mas agora, embora o seu comportamento fosse ainda estranho, sentia-se confiante, alegre, clarividente e forte. Um feitiço envolvera-o, e começara a escrever cartas a toda a gente. Estava tão excitado com estas cartas que desde o fim de Junho andava dum lado para o outro com uma mala cheia de papéis. Levara essa mala de Nova Iorque para Martha’s Vineyard, mas regressou de Vineyard imediatamente; dois dias mais tarde voou para Chicago, e de Chicago dirigiu-se para uma aldeia na zona oriental de Massachusetts. Escondido no campo, escreveu incessantemente, fanaticamente, para os jornais, aos homens públicos, a amigos e familiares e até aos mortos, aos seus próprios mortos obscuros, e finalmente aos mortos famosos.

2 comentários:

Seve disse...

Ando para ler este livro para aí há dez/quinze anos.
Para quem já o leu: valerá a pena?

Sammy, o paquete disse...

Caro Seve,
Li o livro em 1967, tinha 22 anos.
Um largo e variável grupo de amigos, de que fiz parte, juntava-se em mesas de café. Trocávamos livros, discutíamos livros, trocávamos ideias, discutíamos ideias. O tempo corria lento e cinzento e este livro de Saul Bellow foi aconselhado numa dessas conversas à roda das mesas. Gostei muito do livro, outros amigos também, outros nem tanto. Agora, não consigo ter uma ideia de como será ler este livro pela primeira vez. Os tempos mudaram tanto. No findar do livro, depois de todas as suas dramáticas vivências, Herzog volta à sua casa no meio da floresta e exige a si próprio, largando mágoas, dúvidas, melancolias. Mas acredita que volte a sentir uma qualquer esperança.