sábado, 2 de novembro de 2019

MORRER É SÓ NÃO SER VISTO


Aos poucos vamos deixando para trás o culto dos mortos.

Por este dia de finados, os caminhos para os cemitérios já não se encontram tão pejados de carros e pessoas como há uns anos atrás.

Os cemitérios já são pouco visitados.

Lembro que a Rua Morais Soares, caminho para o Cemitério do Alto de São João, há uns anos atrás, era um mar de gente com vendedoras de flores ao longo dos passeios.

José Gomes Ferreira, no dia 2 de Novembro de 1968, escrevia nos seus Dias Comuns

«Hoje, dia de esquecer os mortos… De calcá-los bem na cova – com missas, crepes, luto, flores para coroar caveiras…»

A minha avó marcava o dia de finados acendendo, numa grande cómoda, de madeira muito antiga, lamparinas que se reduziam a um pires com azeite e um paviozinho, colocadas junto aos santos de devoção e às fotografias dos seus mortos.

O  meu avó exasperava-se com esta devoção. Dizia-me que o que devemos é respeitar e amar as pessoas enquanto andam ao nosso lado, o resto é hipocrisia e os fantasmas devemos deixá-los em seu sítio.

Muitos anos depois, hei-de ler em Dóris Graça Dias:

«Apaixonamo-nos pelas pessoas, quando as escutamos. Amamo-las. E só deixamos de as desejar quando deixamos de as ouvir.»

Sem comentários: