quarta-feira, 8 de janeiro de 2020

PATXI ANDIÓN (1947-2018)


Não sou um agendador de mortes, mas consigo intuir que durante o ano de 2019 foi largo o número de escritores, cantores, músicos, de que tanto gostava, e que já não se encontram por aqui.

A alguns fiz referência, de outros não consegui dizer nada.

Na coluna que Gonçalo M. Tavares assina na última página do JL, o escritor pergunta:

«Hoje já disseste alto o nome dos teus mortos? Eis uma pergunta forte.
Repetir o nome de quem morreu, uma das tarefas essenciais dos vivos.»

Não falei da morte de Patxi Andion, ocorrida a 18 de Dezembro, num acidente de automóvel, na provincia de Soria.

Patxi Andion foi uma descoberta solitária.

Corria o ano de 1969 comprei Retratos, um LP editado pela Movie Play. E passei a comprar todos os álbuns que foram saindo.

Patxi Andion por duas vezes quis cantar em Portugal, mas a PIDE colocou-a na fronteira.

À terceira, foi de vez.

Na noite de 24 de Março de 1974, faltava um mês para acontecer o dia das surpresas, Patxi Andion encheu o velho Coliseu.

César Oliveira, no livro de memórias a que deu o nome de  Os Anos Decisivos, recorda esse espectáculo:

«Este clima que andava no ar, este “sentir na pele” de que alguma coisa teria de acontecer, a seguir ao fracasso do 16 de Março, foi exemplarmente experimentado num espectáculo no Coliseu dos Recreios, em Lisboa, com o cantor basco Patxi Andion.

A sala estava, literalmente, a abarrotar. Agentes da PIDE/DGS circulavam na sala, nos corredores, na rua do Coliseu. Perto, por detrás do Teatro Nacional, carrinhas da Polícia de Choque. Patxi Andión percebeu e sentiu o clima electrizante que se viveu e “puxou” e tornou a “puxar” pelo público.

Ao cantar “El Maestro” – “al explicar una guerra/siempre se muestra remiso/explicando claramente/quien venció y fue vencido” – praticamente toda a vasta sala, desde a plateia aos camarotes, balcão e geral, estava de pé, punhos erguidos, soltando-se algumas vozes em “Viva a Liberdade! Abaixo o Fascismo!”

Foi, sem sombra de dúvidas para qualquer espécie, um dos momentos mais altos e com uma carga dramática e épica mais intensa que até hoje pude ver num espectáculo musical.»

O meu pai também gostava de Patxia Andión e pediu-me que incluísse algumas das suas canções nas cassettes que lhe fui gravando.

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