segunda-feira, 12 de julho de 2021

O QU'É QUE VAI NO PIOLHO?


O exemplo encontrado saiu por acaso. Podia ser um outro qualquer livro.

Terna é a Noite tem uma forte influência autobiográfica e o filme realizado por Henry King não chega aos calcanhares do livro, tão pouco a Riviera e as excelentes Jennifer Jones e Joan Fontaine, ajudaram à missa.

Tudo isto vem apenas para lembrar uma velha história:

Duas cabras estão num estúdio de Hollywood a comer uma bobine de filme. Poderia ser do filme de King. Diz uma das cabras:

-Então, está tudo bem?

A outra responde:

- Está, mas gostei mais do livro.

Em OJogo do Reverso, António Tabucchi tem um conto à volta do livro de Fitzgerald:

«À noite falávamos de Fitzgerald ouvindo Tony Bennett que cantava Tender is the Night. Do filme, para dizer a verdade, ninguém tinha gostado, nem sequer o senhor Deluxe, embora não fosse de gostos difíceis. Mas o Tony Bennett tinha uma voz «pungente como o romance», e o Gino tinha de voltar a pôr o disco uma quantidade de vezes. Inevitavelmente pediam-me o início do livro, todos achavam delicioso que eu soubesse de cor o início dos romances de Fitzgerald: só os inícios, que eram uma das minhas paixões. O senhor Deluxe, sério como de costume, pedia silêncio, eu procurava esquivar-me, mas não era possível dizer que não, o disco do Tony Bennett tocava em surdina, o Gino tinha servido os bacardis, eu olhava fixamente para ti, tu sabias qua quele início te era dedicado, era quase como se tivesse sido eu a escrevê-lo, acendias um cigarro na boquilha, também aquilo fazia parte da representação, brincavas à flapper, mas não tinhas nada de uma flapper, nem a franja, nem as meias de rayon e muito menos o espírito; tu pertencias a outra categoria, poderias ter entrado talvez num romance de Drieu, ou de Pérez- Galdós, tinhas um sentimento trágico da vida, talvez fosse o teu egoísmo sem solução como um castigo.» 

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