segunda-feira, 27 de setembro de 2021

PARA SE ACABAR O DIA

Estamos sempre em estado de emergência. Ou o raio daquele título do livro do Manuel António Pina: Ainda não é o fim nem o princípio do mundo, calma é apenas um pouco tarde.

Por vezes temos frio ainda que um maravilhoso sol de Outono nos envolva.

Em cada final de Verão, ele e o avô pintavam o celeiro. Uma trabalheira. «Oh avô! para quê isto todos os anos este ritual?» O avô, calmamente: «O celeiro é da família. Se não formos nós a tratar dele, quem é que o fará?»

Miguel Torga no seu Diário:

« Quando eu era pequeno, havia em casa de meu pai, no cimo dum lameiro, uma costeira que era só fraga; e meu pai, na vessada, cavava também aquêle bocado, que nunca deu sequer feijão chícharo. Só com dez anos de vida, sem conhecer o pavor dos retalhos de tempo, preguntava-lhe eu, já cansado:

- Mas porque é que cava também isto?

E êle, como quem sabia uma verdade eterna:

- Para se acabar o dia.»

u era pequeno, havia em casa de meu pai, no cimo dum lameiro, uma costeira que era só fraga; e meu pai, na  nunca deu sequer feijão chícharo. Só com dez 

1 comentário:

Seve disse...

Curiosamente estou a ler o Vol XV dos diários de Torga e à pág. 101, leio esta actualidade:

"Coimbra,6 de Junho de 1989-Imagens televisivas do enterro de Khomeini. Mas, infelizmente, o fanatismo, de que foi agente e símbolo, não coube no caixão."