sábado, 13 de julho de 2024

O OUTRO LADO DAS ESTANTES


 Marvão: Palavras e Olhares

Domingos Bucho e Raul Ladeira

Câmara Municipal de Marvão, Marvão.

 Começamos por wikipediar:

 «Marvão é uma vila raiana portuguesa localizada no distrito de Portalegre, região Alentejo e sub-região do Alto Alentejo, com 398 habitantes, situada no topo da Serra do Sapoio, a uma altitude de 862 metros entre uma vaga de cristas rochosas.

É sede do município de Marvão com 154,9 km² de área e 3 021 habitantes subdividido em 4 freguesias: Beirã, que teve uma estação de comboios que servia a sede do concelho, Santa Maria de Marvão, Santo António das Areias, São Salvador da Aramenha.

 O município é limitado a norte e leste pela Espanha, a sul e oeste pelo município de Portalegre e a noroeste por Castelo de Vide.

Tomada e fortificada pelos árabes, seria posteriormente conquistada por D. Afonso Henriques e coube a D. Dinis mandar reforçar as muralhas. Dominando o acesso à fronteira e permitindo detectar movimentações inimigas, teve uma importância estratégica na defesa do reino.

O título de Mui Nobre e Sempre Leal foi concedido à Vila de Marvão pela rainha D. Maria II.»

 

Este livro, que faz parte da Biblioteca da Casa, foi parte do trabalho encetado em 2008 para candidatar, ano de 2002, a vila a Património Mundial da UNESCO.

Marvão é um dos muitos lugares de encanto deste país.

Ouvir os sinos durante a noite nas igrejas de Marvão.

O silêncio.

Marvão, de onde se veem os pássaros pelas costas.

Os romanos diziam que em Marvão se estava acima do voo dos milhafres.

O pintor que foi a Marvão para pintar.

Tudo é tão belo que compra casa com vista, arruma os pincéis e não mais lhes toca.

Começo a gostar de terra quando interiorizo que aí seria bonito passar o Natal.

Assim classifico as terras por onde passo.

O escurecer cedo, a lareira acesa, o bacalhau da tradição, um tinto do Douro, músicas de natal, um charuto, a chover, ou a nevar, lá fora, o vento assobiando.

Perder a noção do tempo.

José Saramago na sua Viagem a Portugal:

«Marvão vê-se de Cabeço de Vide, mas de Marvão vê-se tudo. O viajante exagera, mas essa é justamente a impressão que sente quando ainda lá não chegou, quando vai na planície e lhe surge, de repente, agora mais perto, o morro altíssimo que parece erguer-se na vertical.

É verdade. De Marvão vê-se a terra quase toda: para os lados de Espanha avista-se Valência de Alcantara, S. Vicente e Albuquerque, além de uma chusma de pequenas povoações; para sul, pelo desfiladeiro que separa a serra de S. Mamede e a outra, apenas seu contraforte, serra da Ladeira da gata, podem-se identificar Cabeço de Vide, Sousel, Estremoz, Alter Pedroso, Crato, Benavila, Avis; onde o viajante ainda há pouco estava, Nisa, Póvoas e Meadas, Gáfete e Arez, enfim a norte, estando límpida a atmosfera, a última sombra de azul é a serra da Estrela: não espanta que distintamente se vejam Castelo Branco, Alpedrinha, Monsanto. Compreende-se que neste lugar, do alto da torre de menagem do Castelo de Marvão, o viajante murmure respeitosamente: «Que grande é o mundo.»

Durante alguns anos, fomos a Marvão pela Festa da Castanha.

Em alojamento rural, ficávamos de sexta-feira a domingo.

O almoço sempre foi em Castelo de Vide, no «Chalana»: «molhinhos» borrego em tomatada e costeletas de cabrito panadas.

Antes, no caminho, tínhamos comprado pão alentejano, queijos em Nisa e na Chança bifinhos do lombo de porco, devidamente temperados com alho e pimentão, que em Marvão, depois do fecho do assar das castanhas, ficavam os bidons com restos de carvão e aí grelhávamos os bifinhos: manjares do mundo.

Depois, num só de repente, a festa começou a ser invadida por turistas, a perder aquela graça que encontráramos pela vez primeira.

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