terça-feira, 1 de outubro de 2024

ÚLTIMA PAISAGEM

Farol imóvel. Esquina solitária.

Densa paisagem de uma alma que caminha.

Menina com gabardina rasgada, eu.

Altos luzeiros.

Olho a rua larga que se ilumina.

Ouço a água que cai sobre a vida.

Deixa-me partir.

Chamar-te-ei irmão, amigo, caminhante.

Caminhante chamar-te-ia amor se eu não soubesse

que prosseguirei o meu rumo

com coração e cara de menino.

Amigo, irmão vou conversar

nos teus braços que tudo abarcam.

Ouve, macho, barcos há cindindo o horizonte.

Terras distantes como moedas velhas.

Tempo para esboroar entre os dedos

Eis a liberdade de que necessito

como uma fruta ácida e redonda.

Deixa-me partir.

Há um caloroso adeus nas minhas mãos.

O vento amar-me-á como a uma criança.

Nenhum outro homem terá o teu sorriso.

Sou o ouriço triste, de tantos esconderijos.

Irei pela tarde contra qualquer certeza.

Alto farol. Esquina solitária.

A minha gabardina rota pinga lá longe.

 

María Jesús Echevarria em Poemas da Cidade

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