segunda-feira, 12 de setembro de 2022

OLHAR AS CAPAS


Poemas da Cidade

María Jesús Echevarría

Tradução: Paulo da Costa Domingos

Capa: Mariana Malheiro

Ilustrações: Mariana Malheiro

Barco Bêbado, Lisboa, Agosto de 2021

 

Subpoema

 

E tu, monte de trapos.

Boneco, marioneta de um teatro tristíssimo.

Manipanso carregado de terrores

seguindo em fila como um colegial da vida.

 

E tu, como uma vara frágil e antiga.

Feito de angústia, irmão meu.

 

Assustas-me sempre que se atiça

essa chispa fortíssima dos teus olhos,

esse cílio que incessantemente agitas

e esconde a delicada amiba do teu espírito.

 

Sei muito acerca de ti. Fizeram-te

de um raro material branco e brilhante,

verteram sobre ele

a aborrecida obrigação da existência.

Assim, feito de trapos.

Boneco de serradura.

Os teus modos teatrais de papelão

vão ficar em pasta com a chuva

e morrerás em lágrimas.

Ainda que também pudesses morrer de queitude

e somente abrir os olhos

nas Festas à Vida dos outros.

Como os altos e empoeirados monstros

nos esconsos das nossas catedrais.

Sem comentários: