terça-feira, 20 de setembro de 2022

UMA GARRAFA DE CHAMPANHE QUASE CHEIA...

Pousou as mãos no corpo dela e procurou desajeitadamente os botões. Ela afastou-o, impassível; tinha os olhos fechados na penumbra e os lábios tensos. Virou-lhe as costas e, com um movimento rápido, desapertou o vestido, que lhe caiu, amarrotado, aos pés. Os braços e os ombros ficaram nus; ela estremeceu de frio e, numa voz inexpressiva, disse:

– Vai para a sala. Eu despacho-me num minuto.

Ele tocou-lhe nos braços e encostou-lhe os lábios ao ombro, mas ela não se virou.

Na sala, William observou as velas que tremeluziam sobre os restos do jantar, entre os quais se encontrava a garrafa de champanhe, ainda quase cheia. Serviu-se de uma taça e provou a bebida; estava quente e adocicada.

Quando voltou para o quarto, Edith estava na cama com as cobertas puxadas até ao queixo, o rosto virado para o tecto, os olhos fechados, uma ruga fina na testa. Silenciosamente, como se ela estivesse a dormir, Stoner despiu-se e enfiou-se na cama ao lado dela. Durante um tempo, ficou deitado com o seu desejo, que se tornara uma coisa impessoal, que lhe pertencia exclusivamente. Falou com Edith, como que para arranjar um porto de abrigo para o que sentia; ela não respondeu. Pousou a mão no corpo dela e, por baixo do tecido fino da camisa de noite, sentiu a carne por que tanto ansiara. Moveu a mão; ela não se mexeu e a sua ruga tornou-se mais funda. Ele falou novamente, dizendo o nome dela no silêncio. Depois, moveu o corpo para cima do dela, suavemente, apesar da falta de jeito. Quando lhe tocou na macieza das coxas, Edith virou a cabeça abruptamente para o lado e levantou o braço para cobrir os olhos, reduzida a uma mudez total.

John Williams em Stoner

1 comentário:

Seve disse...

Este "STONER" foi dos grandes livros que li. Uma pérola!
Vale a pena ler!