Uma segunda-feira de Outono é um óptimo dia para pegar na autobiografia do Woody Allen, mas acabei por passar pelo Café do Monte e fiquei a ouvir a Ana Cristina Leonardo, o Woody fica para amanhã, ou depois, ou depois:
Sem soluções alternativas, a esquerda agoniza há anos ligada ao balão
de oxigénio dos chamados temas fracturantes e identitários que, na realidade,
inventam mais problemas do que soluções.
Eu vivo numa aldeia mínima, isolada e envelhecida, com meia dúzia de
pessoas. No concelho inteiro não se vendem jornais. Em caso de urgência, o
hospital mais próximo fica quase a 100 quilómetros.
Entretanto, há casais de lésbicas a viverem juntas na mesma casa, umas
nacionais, outras estrangeiras. Há homossexuais. Ninguém quer saber disso para
nada. Como dizia a outra, desde que não o façam na rua nem assustem os cavalos.
Quanto ao racismo, confirmei aquilo que já sabia: os suspeitos do
costume são os ciganos, embora passem meses e meses sem que se veja um cigano.
Já ao marroquino que vem de Espanha e buzina quinzenalmente a vender roupa
fazem-lhe uma festa.
Os poucos jovens querem-se pirar daqui. Não há empregos.
Os poucos empregos que existem dependem da Câmara, do Lar
/Misericórdia, e dos Bombeiros. Não há transportes. É um marasmo. Um dos
peixeiros desistiu de cá vir. O homem que vendia carne, avariou-se-lhe a
carrinha e os poucos bifes que vendia não compensavam o custo do arranjo.
Arrumou as botas e os enchidos.
Eu gosto do sossego disto porque estou a ficar velha e já viajei um
bocado. Mas mais velha e certamente mais aburguesada do que eu está a esquerda.»
Sem comentários:
Enviar um comentário