segunda-feira, 26 de setembro de 2022

O QUE RESTA DA ESQUERDA?

Uma segunda-feira de Outono é um óptimo dia para pegar na autobiografia do Woody Allen, mas acabei por passar pelo Café do Monte e fiquei a ouvir a Ana Cristina Leonardo, o Woody fica para amanhã, ou depois, ou depois:

 «Ler as declarações sobre a responsabilidade da chamada direita tradicional no avanço galopante da extrema-direita torna-se doloroso.

Sem soluções alternativas, a esquerda agoniza há anos ligada ao balão de oxigénio dos chamados temas fracturantes e identitários que, na realidade, inventam mais problemas do que soluções.

Eu vivo numa aldeia mínima, isolada e envelhecida, com meia dúzia de pessoas. No concelho inteiro não se vendem jornais. Em caso de urgência, o hospital mais próximo fica quase a 100 quilómetros.

Entretanto, há casais de lésbicas a viverem juntas na mesma casa, umas nacionais, outras estrangeiras. Há homossexuais. Ninguém quer saber disso para nada. Como dizia a outra, desde que não o façam na rua nem assustem os cavalos.

Quanto ao racismo, confirmei aquilo que já sabia: os suspeitos do costume são os ciganos, embora passem meses e meses sem que se veja um cigano. Já ao marroquino que vem de Espanha e buzina quinzenalmente a vender roupa fazem-lhe uma festa.

Os poucos jovens querem-se pirar daqui. Não há empregos.

Os poucos empregos que existem dependem da Câmara, do Lar /Misericórdia, e dos Bombeiros. Não há transportes. É um marasmo. Um dos peixeiros desistiu de cá vir. O homem que vendia carne, avariou-se-lhe a carrinha e os poucos bifes que vendia não compensavam o custo do arranjo. Arrumou as botas e os enchidos.

Eu gosto do sossego disto porque estou a ficar velha e já viajei um bocado. Mas mais velha e certamente mais aburguesada do que eu está a esquerda.»

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