Não saio de casa sem no bornal viajar um livro, um jornal, ou uma revista.
Pena minha parte, lamento que as 747 páginas de As 7 Vidas de José Saramago da autoria de Miguel Real não permitam andar por aí com o livro.
Fica apenas em amiúde consulta aqui pela casa.
Hoje, a paragem acontece na página 622, capítulo
«Palestina/Israel».
Em 2002, em nome do Parlamento Internacional dos
Escritores, José Saramago integra uma delegação que visita Israel e Palestina.
Em comentários junto da imprensa internacional,
Saramago, indignado pela situação de miséria e repressão que testemunha,
compara a condição do povo palestiniano à do povo israelita durante a Segunda
Guerra Mundial, preso nos campos de extermínio hitlerianos, chegando mesmo a
associar a essa comparação
O nome do campo de concentração de Auschwitz.
O Diário de
Notícias de 26 de Março de 2002, noticia que, em Ramallah, capital
administrativa da Palestina, «Saramago compara israelitas com nazis», e o
jornal 24 Horas do dia seguinte cita
uma declaração sua: «É pior que o apartheid.» De imediato, em reacção, os livros
de Saramago são boicotados por editores e livreiros israelitas. Três dias
depois, o jornal Público noticia que
o Parlamento Internacional dos Escritores não apoia as declarações do escritor
sobre a relação entre Israel e a Palestina e o campo de extermínio nazi de
Auschwitz.
Segundo o argentino Clarin de 21 de Abril de 2002, os escritores israelitas Amos Oz e
David Grossman sentiram-se «horrorizados» com tal comparação.
Em 2007, cinco anos depois daquela viagem, Saramago
participará numa sessão em Lisboa, na Casa do Alentejo, a favor do
reconhecimento do direito do povo palestiniano à libertação do Estado de Israel
e, em entrevista ao Diário de Notícias,
afirma que encontro em Ramallah o espírito de Auschwitz e que esta afirmação
tinha sido censurada no jornal italiano La
Repubblica.
Não parece existir qualquer dúvida qual seria a
posição de Saramago – que tinha o vício de, em muitas situações, em muitos
assuntos, ter razão antes do tempo - perante o genocídio que, há mais de um ano,
Benjamin Netanyahu, impõe em
território palestiniano.
Os múltiplos apoiantes de Israel são de opinião que
devemos superar o ódio que é imputado aos israelitas, com palavras.
Mas que palavras?
Se querem palavras fiquem, por agora, com as do
escritor e editor Manuel Alberto Valente no Público
de 17 de Abril de 2002:
«Israel tem direito ao seu Estado e à
sua segurança. Mas a única maneira de garantir essa segurança é conceder aos
palestinianos o direito a terem um Estado seu. Parece simples, e é tão
complicado. Mas quem, como eu, lutou pelo direito dos povos à sua liberdade, e
por isso, condenou o nazismo e o Holocausto, não pode agora calar-se.»
Em tempo:
Dizer ainda que o estado português continua a não
reconhecer o Estado da Palestina, ao contrário de outros países como, por
exemplo a Espanha.
De que estarão à espera asa excelências?