terça-feira, 17 de novembro de 2015

OLHAR AS CAPAS



Obra Poética

David Mourão-Ferreira
Introdução de Eduardo Prado Coelho
Capa: escultura em mármore de Cascais de Francisco Simões
Editorial Presença, Lisboa, Julho de 1996

Soneto Amargo de Convívio Humano

A pouco se reduz esta aventura:
rio  sombrio de palavras feito,
onde cada garganta é um parapeito
sobre o líquido engano que murmura...

 De pedra, de silêncio, e hostilidade,
somos estátuas verdes mas esquivas.
Odiar? Amar? - Apenas tentativas
falhadas nas esquinas da saudade.

E já nenhuma esp'rança nos consegue
manter o morto corpo desatento:
somente partilhamos o tormento
a que vai cada um de nós entregue.

Que no entanto o rio nos iluda,

com sua eterna melopeia aguda.

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