Obra Poética
David
Mourão-Ferreira
Introdução de
Eduardo Prado Coelho
Capa: escultura
em mármore de Cascais de Francisco Simões
Editorial
Presença, Lisboa, Julho de 1996
Soneto Amargo de
Convívio Humano
A pouco se reduz esta aventura:
rio sombrio de palavras feito,
onde cada garganta é um parapeito
sobre o líquido engano que murmura...
De pedra, de silêncio, e hostilidade,
somos estátuas verdes mas esquivas.
Odiar? Amar? - Apenas tentativas
falhadas nas esquinas da saudade.
E já nenhuma esp'rança nos consegue
manter o morto corpo desatento:
somente partilhamos o tormento
a que vai cada um de nós entregue.
Que no entanto o rio nos iluda,
com sua eterna melopeia aguda.
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