20 de Novembro
de 1975
Apenas hoje,
Pinheiro de Azevedo revelou a Costa Gomes a suspensão do VI Governo Provisório.
Reunidos no
restaurante Chocalho, em Santos-o-Velho, militares afectos ao Grupo dos Nove,
Mário Soares, chegam à conclusão que a auto-suspensão do VI Governo Provisório
talvez seja um caminho para resolver a situação do País.
Dão conta da
decisão a Pinheiro de Azevedo, que concorda com ela.
Às 15 e 30
começa no Palácio de Belém, sob a presidência de Costa Gomes, uma reunião do
Conselho da Revolução para decidir da viabilidade, ou não, do VI Governo
Provisório continuara em funções.
Milhares de
populares começam a concentra-se frente ao palácio protestando contra a atitude
tomada pelo governo de se auto suspender. Os manifestantes exigem a demissão
imediata do governo e a instauração do poder popular.
Os manifestantes
exibem cartazes ode se lê: O SEXTO ESTÁ ROTO. BASTA!
Já perto da
meia-noite o Presidente Costa Gomes fala aos manifestantes:
As posições
estão extremadas.
Pinheiro de
Azevedo, depois da audiência com Costa Gomes e, perante os jornalistas e as
câmaras de televisão, disserta:
Estou farto de
brincadeiras. Fui sequestrado duas vezes, já chega! Não gosto de ser
sequestrado, é uma coisa que me chateia!... Está convocada uma manifestação de
trabalhadores para as quinze horas aqui em frente de Belém… Eu julgo que é de
apoio ao senhor Presidente da República contra o VI Governo, que é o costume
deles… Eu não tenho nada que ver com o sr. General Otelo! Não me interessa
coisa nenhuma. O senhor general Otelo não me resolve coisa nenhuma! A mim não
me interessa nada.
Cerca das 2
horas do dia 20 de Novembro o Conselho de Ministros emite um comunicado onde dá
a conhecer aos portuguesas a suspensão do exercício da sua actividade
governativa até que S. Exª o Presidente da República e Chefe do Estado-Maior
General das Forças Armadas lhe possa garantir as condições indispensáveis ao
exercício das suas funções e autoridade, em ordem a assegurar o cumprimento do
seu programa de Governo em todo o território nacional.
Sobre a decisão,
Sá Carneiro afirma: a posição assumida pelo Governo é uma clara intimidação aos
mais altos responsáveis militares.
Editorial de A
Luta, jornal afecto ao Partido Socialista, presumivelmente, escrito pelo seu
director, Raul Rego:
Comentário do
jornalista Manuel de Azevedo, publicado na última página do Diário de Lisboa:
No livro
Portugal Depois de Abril pode ler-se este fait-divers:
Quando no dia
seguinte, em reuniões sucessivas entre os dirigentes militares, Melo Antunes
propõe a Otelo que assuma o poder, já que não apoia o governo, isto era uma
provocação, a consumação do processo aberto. Já se sabia que Otelo não queria o
poder para nada, respondendo a sorrir:
- Tá bem tomo o
poder…
- E depois? –
pergunta Melo Antunes.
- Depois…
faço-te primeiro-ministro – foi a resposta de Otelo, desfazendo com humor a
grande jogada.
De facto, era a
grande jogada para fazer saltar a esquerda.
Fontes:
- Acervo pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- A Resistência de
José Gomes Mota
- Portugal Depois de
Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga
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