Foi, aliás, por estas e por tantas outras que me
surpreendeu que o Presidente da República, na sua nova e inventada Câmara
Corporativa, se tenha esquecido de ouvir os jornalistas de economia que, salvo
honrosas excepções, se comprometeram a fundo nos últimos anos na interpretação
do “ajustamento” que fez a coligação PSD-CDS. Eles lhe diriam certamente que o
maior crime que se pode fazer à economia é aumentar o rendimento das pessoas e
das famílias, em vez das empresas. Eles lhe diriam que a “reversão” da
legislação laboral, um dos terrores dos empresários que acompanham Passos e
Portas, tornará as empresas ingovernáveis e dificultará essa maravilhosa opção
que é despedir. Eles lhe diriam que tentar no meio de muitos constrangimentos,
olhar de forma dedicada e voluntariosa, para medidas moderadas destinadas a
melhorar a qualidade de vida dos portugueses, é um projecto comunista. E eles
lhe diriam, como aliás já li, que Hollande pode – como um mau exemplo a
exorcizar – dizer que não vai cumprir o Tratado Orçamental, para gastar mais em
defesa da França, mas nem pensar pôr em causa as “orientações”, como lhe chama
o Presidente, da “Europa” a Portugal. E eu a pensar que o único senhor das
“orientações” era o povo português, votando. Mas isso já não se usa.
Por isso, a queda do governo foi também a queda do
“seu” governo, com ele perderam a face e a independência, e reflectem também
muita da raiva que anda por esses lados.
José Pacheco
Pereira no Público
Legenda: pintura
de Nikias Skapinakis
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