9 de Novembro de
1975
O título
pertence à primeira página do Diário de Notícias de ontem.
Já aqui foi referido que a destruição à bomba do centro emissor da Rádio Renascença, na
Buraca, é o abrir de portas para esse 25 de Novembro quase a chegar.
Do Diário de
Lisboa;
Ontem, quando começa a ser conhecida a origem da ordem
contra a Renascença, o general Morais e Silva concedeu uma breve entrevista ao
Rádio Clube Português
que pode considerar-se verdadeiramente inquietante. Inquietante
porque o CEMFA revela uma completa ausência de perspectiva política em relação
a um acto que vai ter repercussões impossíveis de prever em toda a sua
extensão.
Disse o general Morais e Silva que havia apenas três
hipóteses: “ou se tiravam os cristais – o que não daria resultado, pois da
outra vez foram substituídos; ou se desmontava o equipamento – o que não seria
viável, até porque o pessoal não podia lá estar indefinidamente; ou em última
análise, se destruía o equipamento. Perante a premência do tempo e verificando
que era impossível desmontar o material, optou-se pela última solução que era a
destruição do equipamento.
Reparem no que
disse o general: PERANTE A PREMÊNCIA DO TEMPO.
Sobre este caso,
peguemos no livro Portugal Depois de Abril, que também nos tem
acompanhado neste desfilar de acontecimentos dos idos do Verão Quente de 1975;
A operação RR desencadeou a luta dos «páras» em
Tancos.
Perante a repulsa das massas pelo atentado bombista,
compreenderam finalmente que tinham sido manipulados pela terceira vez do 28 de
Setembro e do 11 de Março. Sentiram vergonha de acompanhar a primeira e
bombástica intervenção do AMI, em que perto de uma centena deles tinham
utilizados e decidiram abandonar a nova tropa de choque, mal nascida e já tão
odiada. É que estes homens não mais podiam suportar que as suas armas se
voltassem contra o povo.
SENTADO À
LAREIRA DE NOVEMBRO, na sua casa de fins-de -semana, José Gomes Ferreira
medita:
Porque em verdade vos digo que nasci para uma
profissão qualquer que não sei bem qual é, e ainda não existe, nem talvez venha
a existir, num mundo ao mesmo tempo lógico e absurdo que nunca haverá.
Há. O da Revolução. Verdadeiro, mas que começa a
tronar-se tão longínquo, tão distante, tão perdido num mar de ilhas ainda
ocultas…
Fontes:
- Acervo pessoal;
- Os Dias
Loucos do PREC de Adelino Gomes e José Pedro Castanheira.
- Intervenção Sonâmbula de José Gomes Ferreira
- Portugal Depois de Abril de Avelino Rodrigues, Cesário Borga e Mário Cardoso, Edição dos
Autores, Lisboa, Maio de 1976.
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