segunda-feira, 23 de novembro de 2015

OLHAR AS CAPAS


Tudo o Que Não Escrevi
Diário I (1991-1992)

Eduardo Prado Coelho
Capa: João Machado
Desenho da sobrecapa: David de Almeida
Colecção Finisterra
Eduções ASA, Porto, Abril de 1993

A minha avó paterna chamava-se Adelina. Não era a mãe do meu pai, Palmira, que morrera quando o filho tinha dois anos apenas, mas a tia, com quem o meu avô, prudente e institucional, decidira voltar a casar. O meu pai manteve sempre uma extrema nostalgia pela mãe que mal chegara a conhecer. Até porque a outra, a avó que eu conheci, era a imagem oposta: personagem apagada, discreta, submissa, dedicada, modelo da mulher que vive na vida do seu marido e que assume como uma missão sagrada substituir a irmã em falta.
O meu avô lia-lhe tudo quanto escrevia. E ela ouvia-o com interminável paciência, sem perceber quase nada (não tinha suficiente cultura para isso). Contudo, adorava que ele lesse – forma generosa de o ajudar a ouvir-se a si próprio. Sempre tive uma ternura sem limites por este tipo de pessoas. Por isso mesmo chorei com a Shirley Mac Lane a ouvir as novelas escritas por Frank Sinatra no filme de Minelli chamado Some came running. E fiquei imensamente cúmplice do Manuel Gusmão quando ele me disse um dia que chorava sempre com essas imagens.

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