sábado, 28 de novembro de 2015

OS IDOS DE NOVEMBRO DE 1975


28 de Novembro de 1975

Natália Correia em Não Percas a Rosa:

À meia noite uma última badalada varre os ruídos da cidade.
O estado de emergência não foi considerado suficiente para a gravidade da situação militar e o estado de sítio passa a vigorar na Região Militar de Lisboa
O silêncio exaspera. Estamos sem jornais. Lacónicos comunicados informam espaçadamente a nossa ansiedade. O mais angustiante é que dessas escassas informações não conseguimos concluir se estamos ou não numa guerra civil
Este nosso país é realmente prodigiosos androginato do positivo e do negativo: um Governo em greve. O céu de Lisboa abanado por safanões de caças. Reencontros militares que decorrem num mundo paralelo, invisível. As notas oficiosas noticiam que as bases aéreas vão sendo abandonadas pelos rebeldes.

São emitidos mandados de captura para o Coronel Varela Gomes e Capitão Duran Clemente.

O Conselho da Revolução decide suspender as negociações pendentes sobre a contratação colectiva até à adopção de uma nova política salarial.

Durante a tarde soube-se que, na estação da Amadora, foi mortalmente atingido um membro da F.E.C. (ml). Os comandos dispersavam vários populares que se juntavam para adquirir uma edição clandestina do Luta Popular, órgão informativo do M.R.P.P.

O Conselho da Revolução demite todos os membros dos conselhos administrativos, dissolve os órgãos e corpos sociais, incluindo as assembleias gerais, administrações, conselhos fiscais, direcções e conselhos de redacção dos seguintes órgãos estatizados: O Século, Diário de Notícias, A Capital, Diário de Lisboa, Diário Popular.

Nove dias depois de suspender a sua actividade, o Conselho de Ministros considerou estarem reunidas as condições necessárias para o desempenho da sua missão e, sobre a presidência de Pinheiro de Azevedo, voltou a reunir.

O Primeiro-Ministro, através da R.T.P., fala ao país e, a terminar, diz:


É anunciado o início do inquérito aos acontecimentos do 25 de Novembro.

Vergílio Ferreira no seu Conta-Corrente:

A rádio transmite «folclore» português, dizendo com alegria que há muito não era transmitido. Limpeza geral nas redacções e administrações de jornais estatizados. Iremos  enfim respirar?
Não creio viável a  «democracia». Talvez uma ditadura no género Boumedienne ou Alvarado, como aliás imaginei logo no artigo «Dois meses de revolução».  Mas que sei eu de Alvarado e Boumedienne? Só o que sei é que não posso mais com esta bandalheira.

Fontes: 

-Acervo pessoal.

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