28 de Novembro
de 1975
Natália Correia
em Não Percas a Rosa:
À meia noite uma última badalada varre os ruídos da
cidade.
O estado de emergência não foi considerado suficiente
para a gravidade da situação militar e o estado de sítio passa a vigorar na
Região Militar de Lisboa
O silêncio exaspera. Estamos sem jornais. Lacónicos
comunicados informam espaçadamente a nossa ansiedade. O mais angustiante é que
dessas escassas informações não conseguimos concluir se estamos ou não numa
guerra civil
Este nosso país é realmente prodigiosos androginato do
positivo e do negativo: um Governo em greve. O céu de Lisboa abanado por
safanões de caças. Reencontros militares que decorrem num mundo paralelo,
invisível. As notas oficiosas noticiam que as bases aéreas vão sendo
abandonadas pelos rebeldes.
São emitidos
mandados de captura para o Coronel Varela Gomes e Capitão Duran Clemente.
O Conselho da
Revolução decide suspender as negociações pendentes sobre a contratação
colectiva até à adopção de uma nova política salarial.
Durante a tarde
soube-se que, na estação da Amadora, foi mortalmente atingido um membro da
F.E.C. (ml). Os comandos dispersavam vários populares que se juntavam para
adquirir uma edição clandestina do Luta Popular, órgão informativo do
M.R.P.P.
O Conselho da
Revolução demite todos os membros dos conselhos administrativos, dissolve os
órgãos e corpos sociais, incluindo as assembleias gerais, administrações,
conselhos fiscais, direcções e conselhos de redacção dos seguintes órgãos
estatizados: O Século, Diário de Notícias, A Capital, Diário de Lisboa,
Diário Popular.
Nove dias depois
de suspender a sua actividade, o Conselho de Ministros considerou estarem
reunidas as condições necessárias para o desempenho da sua missão e, sobre a
presidência de Pinheiro de Azevedo, voltou a reunir.
O
Primeiro-Ministro, através da R.T.P., fala ao país e, a terminar, diz:
É anunciado o
início do inquérito aos acontecimentos do 25 de Novembro.
Vergílio
Ferreira no seu Conta-Corrente:
A rádio transmite «folclore» português, dizendo com
alegria que há muito não era transmitido. Limpeza geral nas redacções e
administrações de jornais estatizados. Iremos
enfim respirar?
Não creio viável
a «democracia». Talvez uma ditadura no
género Boumedienne ou Alvarado, como aliás imaginei logo no artigo «Dois meses
de revolução». Mas que sei eu de
Alvarado e Boumedienne? Só o que sei é que não posso mais com esta bandalheira.
Fontes:
-Acervo pessoal.
Fontes:
-Acervo pessoal.
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